20/12/2010

Panetones e gosmas

Quem me conhece um pouquinho sabe que eu ODEIO essas marcas que inventam panetone de todos os sabores: goiabada, mousse de maracujá, trufa, mousse de seiláoque... Na maioria das vezes, e principalmente das marcas mais baratas, os panetones vêm com umas gosmas de recheio, nojentas, gordurosas, asquerosas... O que aconteceu com o bom e velho panetone de frutas secas? Ah, não gosta de frutas? Então o chocotone pode te satisfazer, aquele com pingos de chocolate. É o máximo que eu aturo em panetones - e até prefiro o de chocolate.

Até nisso a Argentina es mejor que Brasil. Aqui (em Buenos Aires) o panetone parece um bolo inglês: do formato de um bolo qualquer industrializado. Estou com um do meu lado e posso dizer com certeza que é assim. Há outros formatos, mas... Budín del cielo (pudim do céu) chama a guloseima, con almendras e nueces (alías, nada a ver, mas aprendi uma ótima técnica para quebrar nozes sem um quebra nozes: a quina da porta). Tá bom, deve ter essas melequeiras aqui, mesmo porque aqui também vende Bauducco (chocotone tipo mousse, eca!). Mas o primeiro panetone que encontrei en la ciudad foi esse. E a primeira impressão é a que fica. Há o panetone default, um que é mais baixo e esse tal de budín del cielo. Amanhã vou ao supermercado só para me certificar de que as melecas passam longe daqui.

Fui. E tomando una copa de Dulce Cosecha (Trapiche) - biennnn dulce.

04/12/2010

Das coisas boas e ruins da infância

Ela brincava no parquinho. Sem perceber, estava sendo seguida.

Tinha no bolso uma bala, um elástico de cabelo e algum trocado para o picolé.

As mãos estavam machucadas por causa do trepa-trepa. Partiu para o escorregador.

Subiu as escadas e sentou-se no escorrega. Escorregou.

Sentiu o vento em suas bochechas vermelhas de sol, e não quis nunca chegar ao chão.

Ouviu uma buzina. “Sorvete de groselha!”

Saiu correndo do poço de areia. E rumou para o sorveteiro.

Refrescou-se. E sentou-se no banquinho.

No horizonte, o sol estava laranja, como era típico das tardes de verão.

Colocou o palito do sorvete entre seus olhos e o sol. Viu um adulto cortado ao meio.

27/11/2010

Em adolescente, eu...

... escrevia coisas do coração... (nada entitulado)


"Corpo interior
alma escondida
que guarda o veneno
do cigarro e da bebida

Prato de porcelana
em lua cheia perambula.
Será alma morta
que vive de sonho?

Tudo é branco
como o doce gosto do perfume
das rosas.
Aura que nunca morre"

----

"Cárcere da solidão,
homem de dinheiro,
sonhador desiludido,
patriarca sem filhos.

Criador inesgotável,
pobre alma.
Conquistador inveterado,
pausa das decisões.

Criatura mercenária,
vivente de seu mundo,
camponês da metrópole, distante de todos.
É pai."

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"Em meio à neblina,
incessante tempestade o fere.
Todos daquele lugar lhe dão as costas,
não tem para onde fugir e
seus olhos cegam com a luz dos relâmpagos.
Fica, então, deitado sobre a grama
e sob a água que vem dos céus e o afoga.
Sente-se desmoronado.
Levanta-se humildemente e olha pra trás,
percebe quantos fantasmas
ficaram e lamenta-se. Então,
vira-se para o horizonte,
a tempestade parece não ter fim,
a força da água desvastadora
engole seu coração.
Quase não possui aquilo
que se chama amar. Sente rancor.
Caminha contra a
terrível enxurrada que o abate,
cada pingo d'água, uma lágrima.
Aguenta firmemente,
apesar das feridas e da dor. Um herói.
Quem dera fosse no pain, ninguém é.
Agora, passa pelo maior dos obstáculos
e consegue enxergar à sua frente diversos deles,
mas sabe que há de vencê-los."

Tem mais aqui e aqui.

26/11/2010

Transcrições II

Também não são meus, mas são. :)

Nas leituras da vida...

"Especialistas são pessoas que sabem cada vez mais sobre cada vez menos até saberem tudo sobre nada."

"Várias das grandes ruínas que hoje decoram os desertos e as florestas são monumentos às armadilhas do progresso, lápides de civilizações que se converteram em vítimas de seu sucesso" - Ronald Wright, em "Uma breve história do progresso"

"O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso" - Mario Quintana

"- Qual é sua medida de tempo preferida?
- Não entendi.
- A medida de tempo. Qual você prefere?
- Os lustres.
- Lustres?
- Sim, a cada cinco anos. E você?
- Às vezes.
- Às vezes é lustres? [não achei "lustres" no dicionário]
- Não, às vezes. É a minha medida de tempo preferida." - Diálogo em O abraço partido, filme argentino


"Estela era um túnel que desembocava na minha morte (...) Agora percebo que vou morrer e ela não estará fazendo cafuné na minha cabeça." - O abraço partido, filme argentino


"A menina escreveu um conto. 'Mas seria muito melhor se você escrevesse um romance', disse a mãe. A menina construiu uma casinha de boneca. 'Seria muito melhor se fosse uma casa de verdade', disse a mãe. A menina fez um pequeno travesseiro para o pai. 'Seria mais útil se fosse uma colcha', disse a mãe. A menina cavou um buraquinho no jardim. 'Seria muito melhor se tivesse cavado um buraco grande', disse a mãe. A menina cavou um buraco grande e foi dormir dentro dele. 'Seria muito melhor se você dormisse para sempre', disse a mãe." - A mãe, de Lydia Daris, saiu na Piauí


A insustentável leveza do ser
Milan Kundera

"Eu poderia dizer que a vertigem é a embriaguez causada pela nossa própria fraqueza, mas não queremos resistir a ela e nos abandonar. Embriagamo-nos com nossa própria fraqueza; queremos desabafar em plena rua, à vista de todos, queremos estar no chão, ainda mais baixo que o chão!!"

"Não encontro outra explicação senão a de que o amor não era para ele, o prolongamento, mas sim a antítese de sua vida pública. O amor era para ele o desejo de se entregar às vontades e caprichos do outro. Aquele que se entrega ao outro como um prisioneiro de guerra deve antes entregar todas as armas. Vendo-se sem defesa, não pode deixar de se indagar quando virá o golpe. Posso, portanto, dizer que o amor era para Franz a espera contínua do golpe que iria atingi-lo."

"Enquanto as pessoas são ainda mais ou menos jovens e a partitura de suas vidas está somente nos primeiros compassos, elas podem fazer juntas a composição e trocar os temas. Mas quando se encontram numa idade mais madura, suas partituras musicais estão mais ou menos terminadas, e cada palavra, cada objeto, significa algo de diferente na partitura do outro."


Cama de gato - filme

"O capitalismo é autofágico."

"As pessoas vão ver que é pior ter todo o espaço do mundo para se expressar e porra nenhuma para dizer."

Transcrições

Não são meus, mas me pertecem.
Enjoy!

O homem sem qualidade
Robert Musil

"Afinal, a Terra não é velha, e aparentemente nunca foi muito abençoada."

"O homem precisa ser limitado em todas as suas possibilidades, planos e sentimentos, por preconceitos, tradições, dificuldades e limitações de toda sorte, como um louco na sua camisa-de-força; e só então aquilo que tem a produzir talvez tenha valor e coerência e solidez; na verdade, é difícil perceber o alcance dessa ideia!"

"A humanidade produz bíblias e armas, tuberculose e tuberculina."

"Perguntas e respostas articulam-se como peças de máquinas, cada pessoa tem apenas tarefas bem determinadas, as profissões estão agrupadas em lugares certos, come-se em pleno movimento, as diversões estão reunidas noutras partes da cidade, e em outros locais encontram-se as torres onde ficam esposas, família, gramofone e alma."

"Não há melhor exemplo de fatalidade do que um jovem que se acomoda dentro dos limites de um velho comum; e isso sem golpe do destino, apenas por um processo de encolhimento ao qual estava predestinado!"

"Poder renunciar a algo que nos faz mal é prova de força vital! As coisas perniciosas atraem os exaustos! O que você acha? Nietzsche afirma que é sinal de fraqueza um artista se ocupar demais com a moral de sua arte."


A arte de ser infeliz (ou a auto-ajuda ao contrário, por minha conta)
Paul Watzlawick

"Nosso mundo, ameaçado de afundar numa onda de conselhos e receitas sobre como ser feliz, não pode ficar privado de uma bóia de salvação para aqueles que procuram a infelicidade."

"Ducunt fata volentem, nolentem trahunt - o destino conduz a quem consente, a quem resiste ele o arrasta." [bobagem]

25/11/2010

Escritos antigos - se eu fosse atriz...

Ficção - 3/4 de mentira

Não falo que fiz papel... (de idiota. Mas eu acho engraçado o que eu direi.)

"O teatro"

Para mim é tudo prosa. (e tudo sonho)

Ia fazer uma peça de Shakespeare (me incomoda conhecer Shakespeare aos 11 anos). Peguei minha fantasia e fui ao teatro. [e tudo isso é mentira, agora é só prosa] ! Lá encontrei vários amigos, ensaiei, tirei 10 (no sonho). No ensaio, chegou a hora - fiquei com medo, pois nunca tinha apresentado em um Teatro Municipal (dê-me licença para eu gargalhar, hahahahha. O que eu queria fazer com esse diário??? Todo ano ia ao teatro para dançar ou tocar flauta, e cantei no Municipal de SP, Campinas, sob a regência de Benito Juarez...). Fiquei envergonhada, então o professor disse "Se não for vc, colocarei outro no lugar". Como assim?? "Chegou a hora?". Ninguém pode me substituir (no quê?). Ninguém. E eu entrei. (tudo isso ficção, no sonho) Entrei, disse minha fala e o tempo foi passsando, horas, e o público, gostando, aplaudindo.

Agora, acorda!

Saindo do sonho, Carmina (na vida real, no coral em que cantava, digo) é foda. E tenho a honra de ter participado do coral aqui no Municipal de SP e em Campinas tb. "Oh, oh, oh, totus floreo, iam amore virginali totus ardeo". E se você gosta de música boa, vai assistir ao vídeo aqui debaixo até o final.



Chegou a hora da última fala (do sonho):

"Ser ou não ser?"

"Você é quem decide".

Acho que eu era muito mais importante na vida real, em Carmina Burana.

Escritos antigos: eu tinha bom humor

1992 - 5ª série - 11 anos - como se fosse alguém (editei alguma coisa)... Know what? Vou esquecer as regras gramaticais, como começar a frase com "me" ou "se". Sabe o que é mais incrível? Eu achei essa madrugada superplus, mas não tinha a ver.

Uma grande madrugada

Eu acordei às 4h da manhã.
Me (sic) espreguicei e virei para ver a janela.
Levantei e abri a porta do meu quarto.
Puxei de lado meu tênis que estava na frente da porta
Fechei a porta, cocei a cabeça e pensei onde era banheiro.
Apertei a luz do corredor.
Voltei para o quarto, passou a vontade
Abri e porta e entrei:
Sentei-me na cama, me estiquei.
Ergui o cobertor e o coloquei sobre mim
Chutei o gato que subiu em cima da cama
Enrolei-me no cobertor
Alisei o gato

escritos nada antigos

Quando estava no 1º colegial, 1996, o professor nos deu esse texto do Dalton Trevisan. Chama "Ezequiel", e parece, segundo meu xerox, estar no livro ou coletânea Desastres do Amor.

"(...) Minha tia não o queria porque era um homem feio e além disso sem profissão. Eu fiquei gostando dele porque levava um rádio e deixava-o lá em casa por algum tempo.

Certo dia, ele apareceu com um auto e disse a meus pais que queria passear com meu irmãozinho. Meus pais deixaram. Eu fui na frente com ele, meu irmão atrás. Ele nos levou a uma rua deserta e parou a lata velha, que é como dizem para certo tipo de carro. Ele pediu a meu irmão que se deitasse porque outro homem ia passar por ali. O outro homem não gostava de criança. Com uma voz que eu não sabia se era dele ou de outro homem, perguntou qual era meu nome, Joana eu disse, quantos anos você tem, oito anos eu disse, você quer uma boneca de cachinho, quero eu disse, e ele me prometeu todas as bonecas de cachinho se eu não gritasse. Depois já estávamos de volta para casa."

Acho que meus professores da escola curtiam Dalton Trevisan, li muito - foram seis anos em colégio jesuíta. Ele não era pessoa pública, nunca foi. Meio errado, meio vampiro, arreio, mais ainda que Chico Buarque (herói da minha infância). Veja você... Não sei de quem gosto mais. Tenho um pouco (ou muito) de Dalton: talvez seja menos reclusa, mas a visão que ele tem da gente curitibana é igual à minha. Não sou de lá, mas vivi lá, né? Há pessoas que amo em Ctba, e amo de verdade; são poucas e boas.



Mais 1992, 1o-11 anos, 5ª série

Vou escrever algo nada a ver com o Dalton. Acabo de ler meus arquivos. E, apesar de ter 18 anos a menos naquela época (29-18=11) , e ter usado o nome da minha melhor amiga da época na redação, e nunca ter tido irmão de verdade (a amiga Mari era mesmo melhor melhor, e se eu a vir hoje, continua sendo), isso veio me fazer escrever, 10 anos depois, com muita vontade. Medo! Ou não?

5ª série B, Anglo, Piracicaba, 10 ou 11 anos (com [muitas e boas, mas sinceras - "lhes" e "se" e tals é por conta da 5ª série] adaptações).

Quando você vê o final, não acredita que seria tão igual ao que escreveu. Eu escrevi isso numa cartilha em 1992 (10-11 anos), sério!!!. Está no meu colo agora. E quando falo com o leitor, não tinha lido Machado de Assis ainda, digressões, muito menos podia esperar que minha mãe morreria.

"Mariana estava correndo e tropeçou no skate do irmão, caiu no chão e rasgou a calça nos joelhos. Gritou para a mãe e chorou. A mãe pegou gelo no congelador para passar no joelho da filha, consolou Mariana. Estava doendo muito. Mariana sorriu para ela e despediu-se porque a mãe iria viajar para trabalhar, e agradeceu por ajudá-la a passar a dor. A mãe de Mariana foi embora e a garota ficou com saudades.

A mãe, no carro, pensou: "Que bonito o ato de Mariana ter vindo correndo só para dizer um 'tchau'. E acabou acontecendo isso (a queda). Eu amo a minha filha".

Querido leitor, as pessoas, às vezes [com crase mesmo], se prejudicam para dizer um 'tchau' para a pessoa que gosta, isto prova que essa pessoa, como Mariana, se prejudicou para querer dizer um 'tchau' para a pessoa que ela ama, a MÃE.

MÃE: palavra pequena.

GRANDE significado."

Esse texto pode parecer um sentimentalismo barato. Mas eu tenho o caderno da sei-lá-que-série [quinta], aqui no meu colo, com esse texto escrito à mão, inclusive sobre a falta da minha mãe. Eu falava com meu interlocultor, que nunca falou comigo.

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Da série: Escritos antigos de 1989/91

Redação para o Dia das Mães (adoooro!!), maio de 1989 (7 anos)

Dia da Mamãe

Minha mãe é bonita, legal e bondosa.
Ela tem olhos castanhos, cabelos meio vermelhos, meio alta, um pouco branca e com muita sarna.
Minha mãe gosta de sopa, batatinha frita, salada de alface tomate e pipino, arroz e feijão.
Ela gosta de ficar lendo livro com a televisão ligada.
A parte da casa que ela mais gosta é o quarto.

(sic)

PS.: Cabelos "meio vermelhos"? Ela tinha cabelos vermelhaços, ferrugem, ninguém tinha dúvida de que era ruiva. "Um pouco" branca? Muito branca. Alva. "meio alta"?? Hahaha. 1,57m e meio, como ela dizia.
PS.2: Sarna??? WTF?? Sardas, como a professora Carolina, da 2ª série A, bem me corrigiu.
PS.3: pEpino.



Redação: "Meu brinquedo preferido", 1991, 4ª série A, professora Chenorik (10 anos - pensava que podia escrever diferente dos outros...)

Meu brinquedo preferido é brincar com a alegria, é passear no bosque, na praia, na floresta, em qualquer lugar, mas sempre com amor. [Obs. da profª.: Que bom!]
Meu brinquedo preferido é ter amigos, amizade, e sentir amor ao próximo.
Meu pior brinquedo é o ódio, a maldade, a raiva, tudo o que nos atinge, nos fazendo mau.
Meu brinquedo preferido é estudar e tirar boa nota na prova. [Obs. da profª.: Maravilha!! Estudar e conhecer é muito interessante].
Meu brinquedo que eu mais gostava era brincar no parquinho, de boneca, com meus primos que eu mais gosto, que eu mais amo.
Ainda eu adoro brincar, fazer tudo de bom para meus primos.
Eu não gosto de ler, só leio de vez em quando, mas sei que uma das melhores brincadeiras, uma das melhores coisas de se fazer quando está só: é ler um "livro".

Comentário da professora Cheno:
Laura, você não terá nota máxima simplesmente porque não respeitou os parágrafos (alinhamento), o que a tia Cheno alertou bastante!! Você escreve muito bem e tem ótimo coração!

(sic)

PS.: Por que não falar de brinquedo físico, né? Ah, canceriana...
Ps.2: Se a redação é brinquedo preferido, por que falar do pior brinquedo? Eu-sou-do-contra.
PS.3: Será que a catequese me influenciou tanto para me fazer uma pré-adolescente que ama tanto o próximo?
PS.4: Sentia-me tão adulta que tinha que dizer que gostaVA de brincar de boneca e com os primos?
PS.5: Minha mãe deve ter tido uma síncope ao ler que eu não gostava de ler. Fora que eu escrevo "livro" no fim. WTF aspas?
PS.6: Adorei o comentário da tia Cheno. Eu só pulava a linha para começar o parágrafo, não deixava o espaço antes do texto, o que, normalmente, naquela época, teria que fazer. O legal é que na internet não tem mais essa de espaço do parágrafo, né? É tudo JUSTIFICADO.

24/11/2010

Da série: Escritos antigos sob crítica

Adoro a ingenuidade e a credulidade da adolescência


Último parágrafo da resenha de 1998 (quando tinha 17 anos) sobre Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto.

Essa peça, com quarenta e quatro anos de idade, ainda é moderna e serve de exemplo para muitos retirantes anônimos da atualidade que vivem em contato com a morte e tentam melhorar suas condições subumanas alargando ainda mais as favelas nas grandes cidades. Será que João Cabral tentou nos avisar?

PS: servem de exemplo ou são exemplo?
PS.2: "da atualidade"? Que horror, Laura.


Resenha do texto "Refém do verde", publicado na Veja em 9 de abril de 1997, de autoria de Franco Iacomini e sobre Guaraqueçaba (PR).

O meio de sobrevivência, segundo
Franco Iacomini, consiste na pesca artesanal e na produção de bananas (o autor se esquece que os bananais não são naturais da mata atlântica, portanto, estando em área de preservação, os bananais estão cada vez mais extintos na região, diminuindo os recursos econômicos da cidade). Porém, pode-se citar mais dois meios de sobrevivência: a produção de palmito, muitas vezes proibida pelo IBAMA, dependendo da idade da árvore, e a Reserva do Boticário, que emprega 20 habitantes.

(...)

O artigo foi bem abrangente, porém, superficial. O jornalista poderia ter falado mais sobre a reserva de Guaraqueçaba, além de entrar mais em detalhes sobre a extensão do município. A localização também deixou a desejar.

[Aí falo onde fica, sua extensão, quando foi fundada, coordenadas...]

Observação do professor:
Laura: Muito bem desenvolvida sua resenha, abordando o assunto inclusive com o próprio conhecimento de quem esteve no local.

Obs.: O autor do artigo da Veja (
Franco Iacomini) foi aluno do Medianeira há uma década!

PS.: Desde pequena criticando os outros...
PS.2: Tomei na cabeça, porque sei que nem sempre é possível escrever tudo o que quer no espaço exíguo dedicado a uma reportagem impressa. Viva a internet!
PS.3: Que diferença faz saber que Guaraqueçaba tem 2 mil km² de extensão? O quanto isso representa é muito mais eficiente. E a localização exata? Só critiquei porque desenhei dois mapas, do litoral paranaense e paulista e um recorte da região de Guaraqueçaba. Foi para me valorizar, óbvio.
PS.2: Nota que me deram: 9,5
PS.2: Que raio de pessoa não falaria da sua experiência pessoal em uma resenha? Tive sorte de ter conhecido Guaraqueçaba antes do professor passar esse trabalho?

Ela

Ela olhou para trás e viu a porta bater. Sentiu como se um fio gelado passasse por dentro de sua espinha; tremeu. Deveria ter olhado pouco antes de ele sair? Como se aquela fosse a última vez? Seria aquela a última vez?

Ela voltou o olhar à revista que estava aberta à sua frente. Meneou a cabeça, sentiu o estômago torcer, a garganta, trancar. Será que ele havia olhado para ela antes de sair? No que ele pensou? Sim, porque ele pensou em alguma coisa. Impossível não pensar...

Ela havia sido fria. Fria, cruel, extremamente desprovida da exaltação que lhe era inerente. Não precisava ser assim, não queria. Mas como iria se defender se não o fizesse? Reagiu mal, bem mal. Sabia disso. Ela só o ignorava porque ele era incapaz de reconhecer sua tristeza, ou de entendê-la.

Ela pensava e lia a revista. As palavras, as linhas, os parágafos, pareciam surgir de acordo com seus pensamentos, como se estes tivessem sido traçados previamente por algum jornalista. Percebeu que não conseguia se concentrar se a cabeça não descansasse. Não fazia ideia do que havia lido nos últimos 20 minutos. Fechou a revista e se levantou.

Ela caminhou. Sentiu os pés descalços no chão de taco, meio geladinho, meio confortante. Como um abraço de verdade, um carinho que relaxa. Recordou-se da última vez em que ele a havia abraçado com força, do último momento em que se sentiu protegida, amada. Foi difícil buscar na lembrança, parece que eles estavam distantes há tanto tempo...

Ela se jogou no sofá e arrumou as almofadas do jeito que fazia todas as vezes que desejava que o mundo a esquecesse. Sentiu que os únicos braços que poderiam ampará-la eram os do sofá. Ali permaneceu, com a cara enfiada na montanha de almofadas. E quase dormiu.

Ela despertou com o barulho da porta se abrindo. Era ele. Voltara com uma garrafa de vinho e o almoço comprado, como combinado. Ela demorou a levantar, ele pensou que estava cansada. Ela não tinha muito apetite, ela achava que estava fazendo regime. Ela não o olhava diretamente, ele achou que era pelos olhos inchados. Ele não perguntou, ela também não. Mesa posta, ela foi comer com a certeza de que algo havia se transformado. Ela.

19/11/2010

Meu mundo em perigo

Passar uns dias num hotelzinho meia bomba no centro para fugir e esquecer os problemas, mesmo sabendo que eles não serão esquecidos. É algo que mais ou menos 99% das pessoas gostariam de fazer. Clicar no "reiniciar", fazer o que o tempo mandar, colocar a cara ao vento livre de preconceitos, fingir ser quem não é ou ser você mesmo com o máximo de autenticidade.

Chorar, gritar, esquecer. Dormir sem hora para acordar. Confiar naquele que mal conhece, esquecer aqueles que te conhecem bem.

Meu mundo em perigo, de José Eduardo Belmonte e que estreia no dia 10 de dezembro, é um pouco isso. É o mesmo diretor de Se nada mais der certo, PUTA filmaço. O novo longa segue a mesma linha "tragédia humana". Não chega a ser superior ao anterior, mas, ainda assim, muito bom.


O enredo dá uma forçadinha, mas é tudo muito bem feito, pensado. As falas são densas, cheias de significados. A trilha se mistura aos diálogos, a película, a retratos. A concepção estética casa ao tormento das personagens, nada é muito colorido, apenas as lembranças – saturadas. É tudo muito dolorido, sofrido. As lágrimas são de desespero, um pedido de socorro.

É a história de um homem perturbado, que acaba de perder a guarda do filho e atropela e mata um sujeito. O homem, Elias, é um fotógrafo (Eucir de Souza). A vítima, pai de Fito (Milhem Cortaz), que fica inconsolável e jura vingança. As atuações são ótimas.

Meu mundo em perigo ganhou os prêmios de Melhor Filme segundo a Crítica e Melhor Ator no Festival de Brasília de 2007. Demorou, mas agora ele veio.

18/11/2010

Jesus me abane!!

É foda quando você tem um blog e as pessoas que mais chegam nele estão procurando por "Casas da Banha" e "monstro do lago Ness".


Frustacías.

Combo 3-D, não!

Eu recebo várias promoções no meu email do Hotmail. Americanas, Submarino, Fast Shop, Livraria Cultura... um sem fim de malas diretas contemporâneas-virtuais. A Fast Shop anda me enviando promos espetaculares de combos: TV 3-D + PlayStation + kit 3-D: transmissor, óculos 3-D, jogos e filme Blu-Ray.

Fast Shop, querida, eu não me dou bem com 3-D (dá uma lida nisso aqui. Minha experiência com Avatar não foi nem um pouco boa). Me dá arrepios, revertério e vertigem só de pensar. E você já me mandou trocentos emails com o mesmo pacote! E, se as opções entre 40 ou 46 polegadas parecem interessantes (R$ 7,2 mil ou R$ 9 mil), só parecem interessantes a outros clientes. TejE ciente que na minha casa não cabe uma TV maior que 32 polegadas. Quer me vender algo realmente bom? Faça uma promoção de 32', sem 3-D e sem nada dessas outras coisas. E de microondas pequeno. E de DVD player.

Além disso, eu sou péssima no PS. Tosca. O controle não me entende e eu não entendo ele. Adoro ver os outros matando no GTA, mas eu não sou boa aluna. No Wii eu me saio um pouco menos pior.

Capisce?

11/11/2010

Preguiça mental

Estou passando por um momento de preguiça mental. Não consigo ser criativa, não consigo prestar atenção, por isso, nem ter concentração. Li, há alguns dias, parte do meu TCC - Trabalho de Conclusão de Curso, da faculdade. É um perfil do artista plástico Newton Mesquita. Fiquei feliz em ter feito alguma coisa decente no passado, mas muito mais infeliz em não fazer mais algo tão dedicado. Assim, qualquer produção se torna medíocre.

Demorei uns dois anos e meio para decidir qual seria o tema do meu TCC. Isso atrasou minha formatura, obviamente, em dois anos e meio. Foi uma decisão árdua, já que não queria terminar a faculdade com um trabalho meia boca. E decidi. Foram meses de visita à casa dele, de entrevistas com muitos que fizeram parte de sua vida... E mais um mês, "férias", para escrever. Eu queria tanto ter tempo para fazer tudo isso de novo! Não que o TCC não tenha defeitos, mas foi feito com muito suor e com toda a minha alma.

Entrar na vida das pessoas é muito complicado, mas muito bonito. Não gosto do jornalismo que se apodera de instantes da vida sagrada de pessoas e depois sai sem dizer tchau. Gosto do que faz sentido também para a pessoa, do que a faz se sentir orgulhosa em participar do seu trabalho. Tem gente que fala que jornalista é urubu, que gosta de sangue e morte. Mas, às vezes, eu acho que está mais para sangue-suga. Você vai lá, invade a privacidade dos outros, faz seu trabalho, ganha seu dinheiro, e vai embora.

Não. Quero que a pessoa se sinta parte realmente importante do meu trabalho, como espero que Newton sinta. Não quero invadir, quero me sentir valiosa para que a pessoa fale o que quer, não o que sinta num momento de fragilidade, tristeza ou sofrimento.

Fazer perfis será uma solução? Dedicar-me a eles com devoção será a que realmente presto nessa vida? Não sei. Mas queria tentar.

25/10/2010

São Paulo é um ovo

Não tenho passado dias de glória. Muito pelo contrário. Tudo está pesado, difícil, moroso. Nessas horas, como já disse antes, tento transferir minha energia para outro lugar, que não a poltrona de veludo da depressão. Tem dado, na medida do possível, certo. Hoje eu estava com uma preguiça terrível, vontade de ficar em casa debaixo das cobertas - minha casa estava gelada, apesar de lá fora o tempo estar ameno, quase quente.

Deixei a preguiça na geladeira e saí. Fui ao cinema com amigas queridas. Filme ótimo, ri muito, quase chorei. Dois irmãos, película argentina dirigida por Daniel Burman, é das melhores (acima, Antonio Gasalla e Graciela Borges em cena). Narra a difícil convivência entre um homem totalmente altruísta e sua irmã, esgoísta e manipuladora ao extremo. Eles não são mais jovens, passaram dos 60 (os dois atores nasceram em 1941). Muitas piadas, muita dor, muito amor. É isso que os une. E é bonito ver esse drama com tanta graça e delicadeza. Teve gente que não gostou, achou aqueles conflitos familiares um porre. Eu me diverti. Muito. E tínhamos presença ilustre na sala de exibição. Lázaro Ramos estava lá, sentado nas melhores cadeiras. Isso também foi motivo de risos e gracejos.

Depois, um jantar despreocupado, com várias ligações inusitadas. A amiga da amiga que conhece outra amiga... o namorado da primeira que trabalhou com um amigo meu da escola. São Paulo é um ovo, um ovo de pessoas conhecidas e adoráveis. É bom estar em uma cidade como essa quando a depressão te chama e você é mais forte do que ela para se abater.

Obrigada, São Paulo, por me cuidar tão bem. E por me cercar de pessoas tão bacanas.

Boa noite.

12/10/2010

O cravo brigou com a rosa

Hoje tentei me lembrar dessa música, mas não conseguia. Confundia a primeira com a segunda estrofe. Foi uma música muito presente na minha infância, e nem sabia o que ela significava. Agora, lendo sua letra, percebo que ela - que é tão cética - muito tem a ver comigo - na fase adulta, sempre tão pessimista e ao mesmo tempo sensível, sentimental. É uma letra despretenciosa, mas de uma verossimilhança incrível. Fica aqui um pouco da ingenuidade da infância, de quando não sabíamos o que significavam as letras, e cantávamos sem indagar. Um pouco daquilo que não podemos perder nunca.

O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada

O cravo ficou doente
E a rosa foi visitar
O cravo teve um desmaio
E a rosa pôs-se a chorar

11/10/2010

A palavra experenciar não foi encontrada.

Experienciar... eu sempre nutri ódio incomensurável por essa palavra. Tive a infelicidade de escutá-la pela primeira vez na faculdade, dita por um professor com vários títulos e respeitado em sua área. Pior: foi repetida diversas vezes por alguns alunos menos contestadores que eu. Olhe como um professor pode levar seus pupilos ao fracasso: se um dia eu estiver conversando com um sujeito e ele disser "experenciar", ou qualquer uma de suas conjugações, vai perder credibilidade. E isso pode ser bem ruim, principalmente se ele for uma fonte.

"Experenciar" não só é horrenda como não existe. Que tal usar "experimentar", "testar", "aproveitar", "avaliar", "praticar", "sentir"... há um sem número de palavras que podem ser usadas no lugar desta, que foi inventada por algum imbecil e caiu no uso cotidiano. O Houaiss me diz: "A palavra experenciar não foi encontrada." Eu acredito nele. Ah, você não gosta do Houaiss? Que tal o Michaelis? Ou o Aulete (de acordo com a nova ortografia)?

O inglês "try" congrega todas as possibilidades para esse verbo-fantasma, e os moradores de países de língua inglesa têm a sorte de nunca terem ouvido "experenciar" na vida. Queria ter nascido "Lóra", não "Láura".

Em tempo, retomei a minha antiga guerra contra esse verbete porque hoje escutei Paulo Bonfá, na Oi FM, se corrigindo após um ato falho - dele ou do redator da nota que ele leu. "... experenciar, aliás, essa palavra que não existe,..."

Aprendeu?

10/10/2010

Quando a vida começa a patinar

Eu sou "contra" a depressão. O que eu aturo, no máximo, é uma melancolia, mas a depressão não me pega. Acho que o indivíduo deprimido produz um tipo de endorfina da tristeza que o faz ficar bem. Sabe? Ele precisa daquele estado para se sentir bem. Não que a depressão seja algo bom, mas os deprimidos meio que precisam dela, se acolhem nela, se identificam com ela... Eles ficam patinando, não saem do lugar, e não conseguem sair porque essa droguinha fica falando que ali está bom, que ali é conhecido, que ali é quentinho.

Essa semana foi péssima para mim. Se caísse um raio em São Paulo, ele escolheria minha cabeça como alvo. Outro dia fui tirar dinheiro do caixa eletrônico e veio uma nota de 20 reais rasgada ao meio. "Quando o negócio está ruim, o urubu de baixo caga no de cima", diria minha mãe. Sábia.

Mas eu tenho um negócio que não me deixa ficar quieta. Eu, naturalmente, transfiro a energia negativa para outra coisa: trabalho mais, bebo mais, estudo mais, gasto mais dinheiro... Nem sempre canalizar para outra coisa traz um saldo positivo. Mas é assim que acontece. A ideia de ficar no mesmo lugar me assusta, dá medo mesmo, gera os mais deprimentes pensamentos. Para mim, o estado de não sair do lugar é depressivo, por isso eu o afasto.

Só que há momentos na vida (que frase mais horrorosa, credo! Vou começar de novo). Só que às vezes eu me sinto patinando ao mesmo tempo em que quero voar. Esmagada por um muro de concreto, ou afundando na areia movediça com uma força para sair dela maior do que eu. Estou assim. Sapateando no mesmo lugar, como fazem os deprimidos, sentados em sua poltrona de veludo do desgosto. Mas, diferente deles, eu não gosto e não quero ficar assim. Me sinto com as asas cortadas e com toda a energia para voar - toda ela sendo subjugada, reprimida.

E esses dias de frio, chuva, a tendência é só piorar. Sou como sapo ou o lagarto, pecilotérmico. Preciso do sol para me esquentar.

23/09/2010

... tenha piedade de nós

Hoje aconteceu uma coisa que me deixou bem triste. Estava em um farol na Avenida Queiróz Filho com a Gastão Vidigal, onde um homem que tem alguma problema na coluna (ele vive curvado) pede dinheiro todos os dias. O sinal abre e eis que uma senhora, de cabelos loiros avolumados por laquê e óculos com detalhes dourados, avança sobre o moço, que terminava de atravessar a avenida em frente ao carro dela. Não contente em acelerar o carro, ela ficou esbravejando, batendo com as mãos sobre o volante. O estadardalhaço foi tanto que consegui ver tudo isso estando atrás dela. O moço se locomove com dificuldade, acho que isso só piorou o mau humor da perua velha.

Ele está ali todos os dias, sempre pedindo dinheiro. Nunca ameaçou ninguém, nunca o vi ser incoveniente. Tem pessoas que já o conhecem e levam roupas e comida. Ele é muito do bem, com um semblante sempre simpático, fala baixo. Nunca dei dinheiro, e ele nunca se ofendeu ou fez cara feia com a minha negação (o que, infelizmente, não é comum hoje em dia).

Depois que a mulher avançou o carro para cima dele, o olhei diretamente no rosto. Estava com cara triste, macambúzio. Não sei se por isso ou outro tropeço do destino, mas o moço não estava bem. Aquilo me atingiu ainda mais. Viver no farol pedindo dinheiro não deve ser a melhor coisa do mundo, mas ele sempre me pareceu animado. Hoje a perua loira avança contra ele e então ele entristece. Se já estava mal, só piorou.

Parabéns, senhora. Espero que, ao longo do seu caminho estressado, não faça mais vítimas da sua pressa egocêntrica.

18/09/2010

Chuvas, homens e equilíbrio

Se o tempo ousa ser esquizofrênico - num dia faz calor de verão, no outro venta, chuvisca e o frio é de arrepiar o pelo mais escondido do corpo -, por que, então, exigir que os homens sejam coerentes e equilibrados? Se a grande, e sábia, mãe natureza tem permissão para agir como um demente na ala mais perigosa do hospital psiquiátrico, por que nós, pobres coitados, formiguinhas diante do cosmos infinito, devemos nos comportar como um exército disciplinado?

Alguns dirão que o que separa a nuvem de chuva, ou uma massa de ar quente, do homem é o fato de sermos um organismo mais complexo. E, mais além, o que nos diferencia dos animais pimpolhos que se acasalam em qualquer lugar, sem nenhum pudor, é a racionalidade e, mais ainda, a escolha.

Ok, ok, mas eu quero ir além. A desestabilidade, e a incoerência, do ser humano o leva a criar, a investigar, a tentar voar, a construir, a se aventurar e, também, a fazer muita cagada. Se todos seguissem uma mesma linha ideológica, falássemos a mesma língua, fossemos todos especializados no mesmo assunto, então talvez eu nem estivesse escrevendo essas bobagens aqui. Porque não existiria o computador, e talvez nem eu existisse.

What I'm trying to say is: seres humanos equilibrados não fazem evolução, não são charmosos e não exprimem paixão. Assim como à natureza, o desequilíbrio é inerente ao ser humano. Os equilibrados são importantes para puxar os desequilibrados para o chão. Mas não são eles que levam à transformação.

11/09/2010

Receita de feijoada

Receita de feijoada: feijão preto, porco (lombo, pé, orelha, costelinha, bacon, paio e calabresa), carne seca, cebola, alho, louro, pimenta e sal a gosto. Coloque as carnes salgadas de molho durante um dia, trocando algumas vezes. Depois, dê uma aferventada nelas e, então, jogue-as na panela com feijão e louro, as macias por último. Cozinhe durante horas, checando o cozimento das carnes, e, por fim, jogue o alho e a cebola refogados. Coma com arroz branco e couve fininha e refogada. Torresmo e laranja também.



Vegetarianos, não se iludam. Feijoada sem carne jamais terá o mesmo gosto, ainda que a receita leve tofu defumado. Quem quer emagrecer é melhor se contentar com outro prato, porque a feijoada com as carnes cozidas separadas do feijão é uma lástima. Porque o bom mesmo é o gostinho (e a gordura) que o feijão pega das carnes de porco e boi. Sem isso, é feijão preto normal, também bom, mas jamais uma feijoada. Eu mesma não curto muito as carnes, mas o feijão fica simplesmente outra coisa. Diliça!

Então por que alguns lugares servem essa feijoada golpista, em que o feijão fica de fora da feijoada? Tudo bem servir tudo separado, mas eles devem ser feitos juntinhos. E aquele sabor inigualável da banha do porco que tempera os grãos pretinhos? E o caldo, com seu aroma e consistência característicos? Protesto aos estabelecimentos que não respeitam a receita tradicional! Quer comer feijão com carne seca e linguiça? Não perca tempo dizendo que é feijoada. Feijoada é G-O-R-D-U-R-A. E tenho dito.

Uma música para os amigos aprenderem a fazer feijuca direito.

Feijoada completa (Chico Buarque)

Mulher
Você vai gostar
Tô levando uns amigos pra conversar
Eles vão com uma fome que nem me contem
Eles vão com uma sede de anteontem
Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Não vá se afobar
Não tem que pôr a mesa, nem dá lugar
Ponha os pratos no chão, e o chão tá posto
E prepare as lingüiças pro tiragosto
Uca, açúcar, cumbuca de gelo, limão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Você vai fritar
Um montão de torresmo pra acompanhar
Arroz branco, farofa e a malagueta
A laranja-bahia ou da seleta
Joga o paio, carne seca, toucinho no caldeirão
E vamos botar água no feijão
Mulher
Depois de salgar
Faça um bom refogado, que é pra engrossar
Aproveite a gordura da frigideira
Pra melhor temperar a couve mineira
Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão
E vamos botar água no feijão


09/09/2010

Último dia em Buenos Aires



No último dia em que estive em Buenos Aires, queria fazer um piquenique nos parques de Palermo. Mas o dia estava gelado, ameaçando chover. Melhor não. As meninas tinham o que fazer, afinal, era segunda-feira, e eu fui conhecer a livraria El Ateneo, na Avenida Santa Fé. Depois fique perambulando, fui até ao Buenos Aires Design, na Recoleta (adooooro, comprei um minidespertador retrô para mim) e voltei para a casa das meninas.


(ah, na manhã desse dia eu comprei frutilla, o mejor, frutillones!)

Almoçamos tartas com ensalada, na casa delas, e depois fui a um supermercado ver se encontrava um vinho que um amigo havia pedido. Não encontrei e comprei os meus no chino, que era mais perto da casa das meninas e mais barato. Depois, eu e a Gabi fomos ao Malba a um debate do livro do mês. O autor do dia era o Liniers e, o livro a ser discutido, El Arte, de Juanjo Sáez. Para quem não conhece, Liniers é um quadrinhista (ou quadrinista? rs) argentino, famoso naquele país e que escreve (desenha) para a Folha. Ele escolheu o livro de um espanhol, o Sáez, que fala de arte de forma muito corrosiva, perspicaz e humorada. Tudo em quadrinhos. Amei!!! No fim, teve degustação de vinho - e, gente, o debate era de graça.


(o debate foi incrível!)

Pois bem, saímos de lá e fomos para um bar perto da casa das meninas encontrar com Vicky. Estava frio, mas o bar tem um sofá na calçada, não tinha como ficarmos em outro lugar. Foi um fim de noite lindo, ótimo! Pena que fui dormir às 2h30 e tive que acordar às 4h40 para pegar o táxi de volta para o Brasil. Agora, fico pensando, quando volto a Buenos Aires? Que saudades!! E que estadia linda!! Muito obrigada às queridas Gabi e Vicky.


(bar com o sofá dos 'Friends')

O Peru é aqui - Abasto, Buenos Aires

No mesmo dia da Feria de Mataderos (post anterior) fomos a um restaurante tradicional peruano, o Mamani. Fica no bairro de Abasto, atrás do shopping de mesmo nome. Apesar de chique, o centro comercial (que fica num incrível prédio restaurado, onde funcionava um mercado) não conseguiu revitalizar todo o entorno. Não é nem um pouco parecido com uma "villa" (favela), mas podia ser mais bem cuidado. Afinal, Buenos Aires é uma cidade tão linda! O bairro é tomado por peruanos, por isso o fato do restaurante estar ali - e, por favor, não julguem isso pela descrição do bairro. Há peruanos da cozinha ao caixa, no salão e sentados à mesa. Bom sinal - prova de que a comida deve ser bem fiel ao país de origem.


(o ceviche gigante)

Pedimos ceviche mixto - com peixe, lula, camarão, polvo, marisco, milho, papa, batata, cebola e leche de trigo. Papa aqui é batata, e batata, batata doce. Uma delícia. Só o peixe não estava 100% porque tinha umas nervuras - acho que não foi cortado como ceviche. Mas tudo estava deliciosamente combinando e fresco. A porção é enorme, com várias texturas...


(meu prato de ceviche... até parece que só comi ele...)

De principal, fomos de tacu-tacu (não tirei foto, estava tão empolgada...) - arroz com caldo de feijão e lomo (mignon em tiras) com cebolla y morrones (pimentões). Tomamos Heineken de 1 litro (26 pesos, cara). Achei engraçado que no cardápio há vários pratos chineses. E eu pensando que a comida nipo-peruana era bem representativa do país... E a chino-peruana? Cadê esse tipo de cozinha no Brasil?


(Vicky e Gabi, fofas!)

Feria de Mataderos - Buenos Aires


(ovejaaaaasssss)

Dando continuidade à minha curta viagem no fim de agosto para Buenos Aires...

Mataderos não é um bairro muito amigável. Fica no extremo norte de Buenos Aires, ao lado de Ezeiza, cidade onde está o aeroporto internacional que leva o mesmo nome. A perifa da "cidade mais europeia da América Latina" não tem nada do glamour do centro. Perifa é sempre Perifa. Pegamos o 141 rumo à Feria de Mataderos e, logo no início, o motorista nos disse que nos deixaria num ponto e que teríamos que pegar outro ônibus para chegar até lá. E que não era para irmos a pé. Fomos saindo do centro e a cidade foi ficando cada vez mais interiorana, mais simples, mais pobre. Muito movimento e, depois, quase ninguém na rua. Era quase 1 da tarde de um domingo. O motorista nos deixou no ponto e nos fez prometer que não iríamos a pé. Tá bom, não fomos. Esperamos o 80 (linha que ele havia indicado) e ele não chegava. Em menos de 10 minutos, dois carros pararam para falar conosco. Melhor pegar um táxi.


(A Gabi ficou brother do minicavalo e da minillama)

O único que passou por nós logo nos perguntou: "Vocês sabem onde estão? Já vieram aqui?" Enfim, não. Uma quadra adiante começava uma favela imensa, a maior de Buenos Aires, segundo o motorista, uma "villa" (pronuncia-se vixa) - me disseram aqui nos comentários que é a Villa 15, conhecida como Ciudad Oculta. O motorista disse que era arriscadíssimo ficarmos ali, no ponto, sozinhas. Por isso o ônibus nos deixou ali, antes da "villa". Não que eu tenha medo de passar na frente de uma, mas não tínhamos pensado que isso aconteceria, e não havíamos escolhido a roupa mais sussa para tal. Estava na cara que não éramos dali, mas tudo bem - pegamos o táxi e fomos. O taxista nos disse para sairmos pelo outro lado da feira, menos perigoso e com mais linhas de ônibus para o centro. Descobrimos que o 92 para ali também - e nos deixou a uma quadra de casa.


(alfajores diferentes)

A feira é o máximo. A Gabi queria visitá-la há muito tempo, mas ninguém queria ir com ela. Essa fama de perigosa é real mesmo, mas jamais afetou nossa vontade, mesmo porque não passamos medo real algum. Eu também queria ter visitado da outra vez que estive em Buenos Aires, mas era tão longe...


(tamales)

Lá tem gente de tudo quanto é tipo: branco, índio, pobre, não-pobre, turista (poucos, os mais descolados), muitos idosos, adultos e jovens. Comemorava-se o Dia Internacional do Folclore (22 de agosto). No palco, várias atrações regionais, e nada de tango. Quem manda ali é a cultura criolla, do campo. Também tinha um minicavalo e uma llama em miniatura para levar crianças para passear, no meio da galera. Para comer, parrillada, choripan (pão com linguiça), tamales, locro e um sem fim de doces fritos ou assados, além, é claro, das empanadas. Há muita coisa de lã e couro na feira, e muitos artesanatos bonitos. As comidinhas artesanais também nos fizeram perder bastante tempo: milhares de tipos de queijos, salames, mel, compotas doces e salgadas, licores, chocolates, doces regionais (descobri que há vários tipos de alfajores), doce de leite, vinhos, azeites! É tudo artesanal e bonito; tem bastante produto de Mendoza e Jujuy - duas províncias do país.


(Pachamama)

Depois de horas de caminhada, sentamos em um restaurante bem simples, instalado em uma construção antiga. A feira fica em frente desse casarão lindo, que parece a casa da fazenda de uma antiga fazenda. A Gabi pediu locro, uma espécie de feijoada mais suave, com feijão branco, canjica e grãos de milho gigante, com tempero leve e carne vermelha com algum osso. Chegamos à conclusão de que a feijoada realmente não tem nada de original: puchero e cassoulet já existiam antes dela. Talvez o locro - a versão latina dos Andes - tenha sido contemporâneo. Eu pedi tamales, uma pamonha enrolada na folha do milho, mas com massa mais parecida com a polenta e recheada de carne. Com o molho chimichurri fica uma delícia! E Quilmes. Siempre. Compramos uns cubanitos de sobremesa, em uma barraca. Uns tubetes gigantes recheados de doce de leite. Delícia! Vimos parte do show (lotado) de um senhor índio simpático que cantava à Pachamama (não lembro o nome dele e perdi o link do evento, dãr).


(cubanitos)


(quesos)


(eu e a placa)

24/08/2010

A orquestra atrás dos banheiros


(flor sem flor)

Eu estava em outro pique nessa viagem. Não comprei alfajores Havanna, não comi parrillada nem ojo de bife ou chorizo. Só tomei vinho, bastante, e cerveja de 1 litro, idem. Fiquei na casa das fofas da Gabi e da Vicky, numa avenida gostosa da Villa Crespo. Queria me sentir em casa, sem as paranoias de turista, muito menos a sua pressa e ânsia de conhecer tudo.

No sábado (21/ago) fomos almoçar em um natural, Pura Vida, que vende saladas e wraps no centro viejo. Pedi um combo com 1/2 wrap e sopa do dia por 24 pesos. Assistimos (tentamos) ao concerto gratuito da Orquesta West-Eastern Divan, regida por Daniel Barenboim. Nós e meia Buenos Aires, que lotou a Avenida 9 de Julio na altura do obelisco. A organização foi muito lusitana de montar uma "corrente" de banheiros químicos em volta do palco, que estava num nível inferior - ou seja, as casinhas tapavam toda a visão. Não foi muito relaxante escutar música clássica olhando para banheiros químicos. Engraçado é que as pessoas faziam shhhhhiu para as outras que falavam num tom um pouco mais alto que o cochicho. Era preciso sussurrar em plena 9 de Julio, olhando para um monte de banheiro. Bizarro.


(alguém vê o palco aí?)

Saímos de lá e fomos ao Museo Nacional de Bellas Artes, atrás do cemitério da Recoleta. Eu não conhecia, gostei muito. Nosso guia foi Nico, um amigo das meninas peronista até o último fio de pelo do corpo. Um cara muito inteligente, sabe tudo da história de seu país, divertido e que, a cada 20 minutos, soltava um Perón, para não perder o costume... ahahah

Fomos ver a exposição de Antonio Berni, artista famoso que nasceu no início do século XX e morreu no fim do emsmo siglo. Ignorante da arte argentina, eu não o conhecia. Sua obra gira em torno de uma mesma temática, e não de uma técnica. É o conflito de classes, a desigualdade social, a enxurrada capitalista do consumo, os exageros e as faltas é que chamam sua atenção. Muito bacana. Mas cada quadro tem uma linha, um traço, uma técnica - o que é muito curioso. Olhando para as telas, vê-se Frida Kahlo, Portinari, desenhos naïfs e, vá lá, até Toulouse Lautrec ou a pop art. Além da temática, o que persiste em todos os quadros é a tristeza no olho de suas personagens. Olhares baixos, longe, de desalento.


(eu e a Gabi em frente à Faculdade de Direito e da flor, que se abre pela manhã e fecha no por-do-sol)

Demos uma volta no museu, para ver a exposição permanente, e saímos em direção a um bar não muito caro - porque a Recoleta é alto nível. O sol era uma bola laranja no horizonte, na direção contrária à que nascia a lua. Andamos um pouco para chegar ao La Milanesa, na Avenida Las Heras. O bar é bem bonitinho, pensamos que fosse caro. Para a nossa surpresa, Quilmes de 1 litro por 16 pesos, 8 reais. Baratíssimo. Além de tomarmos várias, pedimos uma batata para petiscar. Era gratinada com molho de queijo e cebolla de verdeo, uma espécie de broto de uma cebola roxa em formato de alho poró. Delícia.

Bebemos todas e fomos para casa. As meninas moram em um apê fofo, pertinho do Parque Centenário. Antes de subir, passamos no chino (gosto cada vez mais dos chinos) para comprar vinho, massa e outras cosas para o jantar. Comemos, bebemos vinho e a Vicky saiu para o aniversário de uma amiga. Ia rolar um esquenta na casa dela e depois cerca de 20 amigos embarcariam no 'trenzito de la alegria'. Sério. É um trezinho mesmo, desses parecidos com bonde, mas a motor, que circula pelas ruas de Palermo. O povo se embebeda dentro do trenzito e fica berrando e mexendo com os transeuntes. Meio bizarro, mas parece ser divertido (se você não estiver sóbrio, é claro). Resolvi dormir antes de sair, e quem disse que consegui acordar? Barriga cheia e fígado atarefado combinam com cama. E só acordei de madrugada, deitada de calça jeans, blusa e sutiã, espirrando, atrás de um antigripal. Tomei e voltei a dormir. Lindo dia!


(sol laranja. rico!)

A caminho de Buenos Aires

O serviço das Aerolíneas Argentinas é infinitamente melhor que da Gol. Eles oferecem vinho e cerveja e aquela bolacha nojenta com recheio radioativo não existe. No lugar, misto frio no pão de ervas; e bolo (meio sequinho, é certo) com cobertura delícia de limão. O preço é bem parecido e você ainda pode dar sorte de embarcar ou desembarcar no Aeroparque, que fica muito mais perto que o aeroporto de Ezeiza (e bem mais barato - 25 pesos x 118 pesos).

Para chegar a Cumbica foi um caos! Saí às 17h15 do trabalho e cheguei mais de duas horas depois. Puta congestionamento na marginal Tietê. No aeroporto, desci uma Heineken e uma Devassa ruiva. Porque, afinal, é sexta-feira.

Li alguma coisa no avião, que demorou mais de meia hora para decolar. Não consegui descobrir como faz para colocar o banco para trás e fiquei a viagem toda ereta. É horrível! O pior de tudo é começar a dormir com a cabeça despencando no ombro do vizinho. Indigno.

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Sim, fui novamente a Buenos Aires. Renovar o meu ar.

18/08/2010

"Possuídas pelo pecado" me possuiu


Ontem eu estava zapeando e passei pelo Canal Brasil. Passava o filme Possuídas pelo pecado, de Jean Garret (dos tempos áureos do cinema da Boca do Lixo), na sessão "Como era gostoso...". Os principais nomes do elenco eram David Cardoso e Agnaldo Rayol, este último com menos importância. Fazia um artista boêmio, que desenhava clientes de uma boate de strip tease no Rio de Janeiro. Acabou que desenhou a "secretária" de um ricaço alcoólatra, que o chamou para uma estadia em sua mansão para pintar um quadro. Coisa de mecenas mesmo...

Eu dei tanta, mas tanta risada com o filme, que não consegui desligar a TV e ir dormir. O protagonista é André, David Cardoso, com todos os músculos à mostra, motorista do ricaço, Leme (Benjamin Cattan) - um velho louco, preconceituoso, sádico, que bebe 24 horas por dia e não pode ter filho. Bem estereotipado. Ele tem duas 'secretárias', Jussara (Zilda Mayo) e Anita (Helena Ramos), que moram em sua casa, escondidas da mulher, e às custas dele, que as faz de gato e sapato. Anita bebe como uma porca e até beija o pé do patrão para dar um gole no uísque.

André é amante da mulher do ricaço, os dois planejam matá-lo para ela ficar com a fortuna do velho. A mãe dela desaprova. Roteiro clássico, sem surpresas. Acontece que a filha da empregada, Dorinha (Nicole Puzzi), vai morar na casa e se envolve com André. Engravida e ele tem a brilhante ideia de armar contra Leme: fingir que o filho é fruto de uma noite romântica com a menina depois de uma bebedeira. O ricaço cai na armadilha, pede "desquite" (assim mesmo, como nos velhos tempos) da mulher e começa a planejar o futuro de pai. Larga a bebida.

O melhor não é o roteiro, óbvio, mas as falas, caras e bocas e o jogo de câmeras. Tem uns momentos em que rolam uns cortes secos, e super closes, que lembram filmes de terror - e até um pouco da loucura de Godard e Antonioni. Tem muita nudez, cenas de strip, gordurinhas mais do que salientes para os padrões atuais, sexo, álcool, violência psicológica... só coisa imoral. E um monte de cenas bizarras, provocantes, apavorantes, diálogos desprezíveis e a fenomenal dublagem característica da época. Tudo errado. Mas muito bom. Tem uma cena em que Leme fica torturando Anita com uma garrafa de uísque, e a joga dentro de um chiqueiro. Sim, porcos. Inacreditável. Ela bebe a garrafa inteira num gole só, e a imagem dela pisca com a da cara do porco. Inesquecível. Sabe que eu acho que realmente existem pessoas assim, talvez um pouco menos estereotipadas, mas completamente submissas ou tiranas ou ambiciosas ou fúteis.

No final, o filme dá uma guinada meio séria, diferente do começo irônico e torpe. Fiquei sem saber por que. Não entendi também o nome do longa, o que pode ter sido explicado no começo - que perdi.

*Foto do estranhoencontro.blogspot.com

17/08/2010

Como as músicas se fixam em nossa memória (ou só na minha...)

Para tirar o blog do "nadismo" (ato ou efeito de fazer nada, por Pula Onishi), resolvi escrever um post sobre memória. A minha memória musical.

É engraçado como algumas das músicas que aprendi nas aulas de inglês e espanhol ficaram impregnadas na minha cabeça. Solto a voz sempre que as escuto, sem vergonha, por mais brega que sejam. "Las cartas que escribi, nunca las envie, no querras saber de mi. No puedo entender la tonta que fui, es cuestion de tiempo y fe..." (Shakira, Estoy aqui - alguém se lembra dela como está na foto?). Há outra: "So tell me have you ever really, really really loved woman... To really love a woman, to undernstand her, you've got to known what deep inside..." (Brian Adams -!!!-, Have you ever really loved a woman) – essa última eu escutei hoje no carro, vindo para o trabalho. Óbvio, berrando cada verso. Tem umas não-vergonhosas, como Woman in chains (Tears for fears) ou The fool on the hill (Beatles). São essa quatro, basicamente, que ficaram marcadas por causa da escola e do curso de inglês.

Há outras, também, que me vêm fácil fácil à lembrança. Elas têm a ver com a infância infância mesmo, quando eu malemá sabia o que era música. Minha mãe gostava muito de Chico e Elis. E eu ficava animada, pulando, com Boi voador, seguido, na gravação, por Não existe pecado do lado de baixo do Equador.João e Maria e Noite dos mascarados, interpretadas pelos dois, também estavam no meu top ten.



Minha mãe também tinha um disco duplo (é, minha gente, disco) chamado "Um homem, uma mulher", que, obvimante, trazia faixas cantadas por um homem e... uma mulher. A versão brasileira de Endless love (Amor sem fim, em português), cantada por não sei quem, me arrebatou o coração. Eu quase choro toda vez que ouço. Minha mãe achava brega, mas eu não. Um toco de gente e romântica. O que diria eu daquela época sobre eu de agora? Certo, é brega.

Tem uma bem legal, que eu acompanhava com o encarte do disco no colo (porque tentava ler a letra). Boquita de cereza, do Tarancón. "Besa que te besa, boquita de cereza, sueña que te sueña que no eres para mí. Llora que te llora mis ojos de tristeza, no tengo riqueza, mi alma es para tí". Não é fofa? Eu fui a um show do grupo quando eu tinha uns dois anos. Minha mãe não queria me deixar com ninguém e me levou. Quando ela viu, eu tinha subido no palco e a vocalista estava me olhando desconfiada. (Ah, sim, quando eu era pequena eu tinha o péssimo hábito de subir nas coisas, em todas)



E me lembro muito bem de uma música irritante que eu aprendi logo nas primeiras lições da flauta doce. Faz muuuito tempo, acredite. "Que é da margarida, o quê? O quê? O quê? Que é da margarida, o que se vai fazer?" A música era só isso, uma das mais difíceis do livrinho. Fiquei treinando um dia inteiro para conseguir tocar sem tropeços na próxima aula. Só que minha tia resolveu passar a tarde em casa, coitada. Ela ficou louca com a música, até hoje ela se recorda da margarida. Impregnou. Total.

O que eles querem delas

De um amigo, deveras sabedor das coisas da vida, sobre as mulheres (a mocinha ao lado parece se encaixar, para ele, nesses requisitos):

A gente sempre leva em consideração alguns pontos básicos. Digamos que exista um limite máximo de assimetrias.

Limite de assimetria: não pode ter o cérebro menor que o coração; não quero só amor e afeto, aliás, só um tantinho mínimo; quero desafio.

Pontos básicos (fisicamente falando): proporção razoável de ombros e quadris; a bunda é mais importante que o peito; rosto (bonito) flexível, isto é, nem cara de puta constante, nem cara de santa permanente.

15/08/2010

Patacho - dia 4

04/abril

Estou cheia de bolinhas vermelhas na canela, parece alergia. Não sei do quê, mas desconfio que seja da água do mar quente. Tá coçando muito.

[as fotos de hoje estão horríveis pq foram feitas no meu celular]

Tomamos café e eu voltei para o ar condicionado do quarto. O Thomaz está lendo na varanda. Daqui a pouco saímos para as piscinas naturais.

O Fábio, que nos levou às piscinas, disse que nos viu ontem passando na estrada, a pé = andarilhos!! [certeza que NENHUM turista andou tanto assim, e na beira da estrada] Disse que nós devemos ter andado uns 25 quilômetros. Não é a toa que hoje minha batata da perna está dolorida...

As piscinas são lindas! Aproveitamos a maré alta para ultrapassar os corais. A água se apresenta em todas as tonalidades de verde, verde-azulado. Vimos muitos peixes: palhaço, pretos, azulados, vermelhos, roxinhos, riscados, cinzas, peixes que pulam (juro), corais roxos e vermelhos e até lagostim! O Fábio abriu um ouriço e os peixes vieram comer suas ovas. Assim nem precisa sujar o mar com migalhas de pão! Ele disse que sai muito para caçar lagosta e polvo em alto mar, a bordo de sua jangadinha. Mas contou que certa vez foi pescar de verdade, nesses barcos que passam 15 dias no mar, e não aguentou. Ele e um primo passaram mal a viagem toda, as ondas eram enormes, e o capitão do barco resolveu voltar no segundo dia. Se é duro para gente que vive no mar e do mar, imagine para nós, da cidade...

O passeio foi uma delícia e voltamos à pousada às 13h. Vamos almoçar por aqui mesmo. Ficamos com preguiça de ir para algum restaurante a pé ou de bike. As coisas aqui são longe para quem está a pé e cansado!

O Thomaz-olho-maior-que-a-barriga quis pedir 3 petiscos no almoço, em vez de um prato para cada. Macaxeira frita, polvo vinagrete e filé de aratu, que vieram à mesa nessa ordem. As porções são grandes, ou seja, muita comida. A mandioca estava crocante e macia, o polvo, delicioso (foto do Thomaz querendo pegar a mandioca antes do clique). Quando o aratu chegou, coitado, não tínhamos mais fome! Aratu é um caranguejo vermelho do mangue e estava muito bom: a carne é meio desfiada e o prato parece uma espécie de fritada. Comemos feito bois e fomos ler.

Eu estava muito queimada e dolorida, então fui tomar banho frio e arrumar minhas coisas. Depois, só mofamos. À noite, o céu estava estreladíssimo, coisa comum por aqui. É muito agradável ficar sentado no jardim, sentindo a brisa e olhando as estrelas. Depois assistimos a uma sessão de fotos de um fotógrafo e uma modelo que estavam hospedados na pousada. O Christian estava animadíssimo. Mais tarde, pagamos a nossa estadia e mais uma brincadeira do Christian: imprimiu a conta em números minúsculos, para perecer menor... ahahhah Quando íamos voltar para o quarto e esperar o transfer, ele chamou toda sua brigada e fez com que cada funcionário se despedisse de nós. Normalmente rola gritaria, buzinaço. Mas como iríamos embora meia-noite, ele achou por bem não fazer barulho. Preferiu me dar 348324 beijos de tchau. rs (na foto, a porta dos fundos do nosso quarto-casinha)

Eu dormi e depois colocamos um filme, Em Paris. Logo já era meia-noite e fomos esperar o transfer, que se atrasou um pouco. Ah, pagamos 140 reais. Muito mais do que R$ 11 de cada passagem do busão, mas infinitamente melhor. Ele demorou 2h para percorrer os 120km. Juro que não dava para ir mais rápido, é uma estradinha safada, cheia de curvas, e, óbvio, não conseguimos pregar o olho. Ainda em São Miguel dos Milagres, o moço atropelou um gato siamês. Ele ficou mal. "E era daqueles de raça..." O bicho estava bem no meio da rua, deitado. O motorista diminuiu a velocidade e o gatinho veio direto para baixo do carro. As duas rodas, da frente e de trás, passaram por cima dele. Tum, Tum. Foi triste, pobre gato.

Começou a dar fome no meio da viagem e ainda bem que o aeroporto de Maceió tem restaurante aberto de madrugada (ao contrário de Cumbica, que só tem lanche). Comemos e fomos embarcar. Óbvio que não dormimos direito. Chegamos perto das oito horas de uma manhã chuvosa, feia, fria e cheia de congestionamentos. Bem-vindos a São Paulo.