24/08/2010

A orquestra atrás dos banheiros


(flor sem flor)

Eu estava em outro pique nessa viagem. Não comprei alfajores Havanna, não comi parrillada nem ojo de bife ou chorizo. Só tomei vinho, bastante, e cerveja de 1 litro, idem. Fiquei na casa das fofas da Gabi e da Vicky, numa avenida gostosa da Villa Crespo. Queria me sentir em casa, sem as paranoias de turista, muito menos a sua pressa e ânsia de conhecer tudo.

No sábado (21/ago) fomos almoçar em um natural, Pura Vida, que vende saladas e wraps no centro viejo. Pedi um combo com 1/2 wrap e sopa do dia por 24 pesos. Assistimos (tentamos) ao concerto gratuito da Orquesta West-Eastern Divan, regida por Daniel Barenboim. Nós e meia Buenos Aires, que lotou a Avenida 9 de Julio na altura do obelisco. A organização foi muito lusitana de montar uma "corrente" de banheiros químicos em volta do palco, que estava num nível inferior - ou seja, as casinhas tapavam toda a visão. Não foi muito relaxante escutar música clássica olhando para banheiros químicos. Engraçado é que as pessoas faziam shhhhhiu para as outras que falavam num tom um pouco mais alto que o cochicho. Era preciso sussurrar em plena 9 de Julio, olhando para um monte de banheiro. Bizarro.


(alguém vê o palco aí?)

Saímos de lá e fomos ao Museo Nacional de Bellas Artes, atrás do cemitério da Recoleta. Eu não conhecia, gostei muito. Nosso guia foi Nico, um amigo das meninas peronista até o último fio de pelo do corpo. Um cara muito inteligente, sabe tudo da história de seu país, divertido e que, a cada 20 minutos, soltava um Perón, para não perder o costume... ahahah

Fomos ver a exposição de Antonio Berni, artista famoso que nasceu no início do século XX e morreu no fim do emsmo siglo. Ignorante da arte argentina, eu não o conhecia. Sua obra gira em torno de uma mesma temática, e não de uma técnica. É o conflito de classes, a desigualdade social, a enxurrada capitalista do consumo, os exageros e as faltas é que chamam sua atenção. Muito bacana. Mas cada quadro tem uma linha, um traço, uma técnica - o que é muito curioso. Olhando para as telas, vê-se Frida Kahlo, Portinari, desenhos naïfs e, vá lá, até Toulouse Lautrec ou a pop art. Além da temática, o que persiste em todos os quadros é a tristeza no olho de suas personagens. Olhares baixos, longe, de desalento.


(eu e a Gabi em frente à Faculdade de Direito e da flor, que se abre pela manhã e fecha no por-do-sol)

Demos uma volta no museu, para ver a exposição permanente, e saímos em direção a um bar não muito caro - porque a Recoleta é alto nível. O sol era uma bola laranja no horizonte, na direção contrária à que nascia a lua. Andamos um pouco para chegar ao La Milanesa, na Avenida Las Heras. O bar é bem bonitinho, pensamos que fosse caro. Para a nossa surpresa, Quilmes de 1 litro por 16 pesos, 8 reais. Baratíssimo. Além de tomarmos várias, pedimos uma batata para petiscar. Era gratinada com molho de queijo e cebolla de verdeo, uma espécie de broto de uma cebola roxa em formato de alho poró. Delícia.

Bebemos todas e fomos para casa. As meninas moram em um apê fofo, pertinho do Parque Centenário. Antes de subir, passamos no chino (gosto cada vez mais dos chinos) para comprar vinho, massa e outras cosas para o jantar. Comemos, bebemos vinho e a Vicky saiu para o aniversário de uma amiga. Ia rolar um esquenta na casa dela e depois cerca de 20 amigos embarcariam no 'trenzito de la alegria'. Sério. É um trezinho mesmo, desses parecidos com bonde, mas a motor, que circula pelas ruas de Palermo. O povo se embebeda dentro do trenzito e fica berrando e mexendo com os transeuntes. Meio bizarro, mas parece ser divertido (se você não estiver sóbrio, é claro). Resolvi dormir antes de sair, e quem disse que consegui acordar? Barriga cheia e fígado atarefado combinam com cama. E só acordei de madrugada, deitada de calça jeans, blusa e sutiã, espirrando, atrás de um antigripal. Tomei e voltei a dormir. Lindo dia!


(sol laranja. rico!)

A caminho de Buenos Aires

O serviço das Aerolíneas Argentinas é infinitamente melhor que da Gol. Eles oferecem vinho e cerveja e aquela bolacha nojenta com recheio radioativo não existe. No lugar, misto frio no pão de ervas; e bolo (meio sequinho, é certo) com cobertura delícia de limão. O preço é bem parecido e você ainda pode dar sorte de embarcar ou desembarcar no Aeroparque, que fica muito mais perto que o aeroporto de Ezeiza (e bem mais barato - 25 pesos x 118 pesos).

Para chegar a Cumbica foi um caos! Saí às 17h15 do trabalho e cheguei mais de duas horas depois. Puta congestionamento na marginal Tietê. No aeroporto, desci uma Heineken e uma Devassa ruiva. Porque, afinal, é sexta-feira.

Li alguma coisa no avião, que demorou mais de meia hora para decolar. Não consegui descobrir como faz para colocar o banco para trás e fiquei a viagem toda ereta. É horrível! O pior de tudo é começar a dormir com a cabeça despencando no ombro do vizinho. Indigno.

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Sim, fui novamente a Buenos Aires. Renovar o meu ar.

18/08/2010

"Possuídas pelo pecado" me possuiu


Ontem eu estava zapeando e passei pelo Canal Brasil. Passava o filme Possuídas pelo pecado, de Jean Garret (dos tempos áureos do cinema da Boca do Lixo), na sessão "Como era gostoso...". Os principais nomes do elenco eram David Cardoso e Agnaldo Rayol, este último com menos importância. Fazia um artista boêmio, que desenhava clientes de uma boate de strip tease no Rio de Janeiro. Acabou que desenhou a "secretária" de um ricaço alcoólatra, que o chamou para uma estadia em sua mansão para pintar um quadro. Coisa de mecenas mesmo...

Eu dei tanta, mas tanta risada com o filme, que não consegui desligar a TV e ir dormir. O protagonista é André, David Cardoso, com todos os músculos à mostra, motorista do ricaço, Leme (Benjamin Cattan) - um velho louco, preconceituoso, sádico, que bebe 24 horas por dia e não pode ter filho. Bem estereotipado. Ele tem duas 'secretárias', Jussara (Zilda Mayo) e Anita (Helena Ramos), que moram em sua casa, escondidas da mulher, e às custas dele, que as faz de gato e sapato. Anita bebe como uma porca e até beija o pé do patrão para dar um gole no uísque.

André é amante da mulher do ricaço, os dois planejam matá-lo para ela ficar com a fortuna do velho. A mãe dela desaprova. Roteiro clássico, sem surpresas. Acontece que a filha da empregada, Dorinha (Nicole Puzzi), vai morar na casa e se envolve com André. Engravida e ele tem a brilhante ideia de armar contra Leme: fingir que o filho é fruto de uma noite romântica com a menina depois de uma bebedeira. O ricaço cai na armadilha, pede "desquite" (assim mesmo, como nos velhos tempos) da mulher e começa a planejar o futuro de pai. Larga a bebida.

O melhor não é o roteiro, óbvio, mas as falas, caras e bocas e o jogo de câmeras. Tem uns momentos em que rolam uns cortes secos, e super closes, que lembram filmes de terror - e até um pouco da loucura de Godard e Antonioni. Tem muita nudez, cenas de strip, gordurinhas mais do que salientes para os padrões atuais, sexo, álcool, violência psicológica... só coisa imoral. E um monte de cenas bizarras, provocantes, apavorantes, diálogos desprezíveis e a fenomenal dublagem característica da época. Tudo errado. Mas muito bom. Tem uma cena em que Leme fica torturando Anita com uma garrafa de uísque, e a joga dentro de um chiqueiro. Sim, porcos. Inacreditável. Ela bebe a garrafa inteira num gole só, e a imagem dela pisca com a da cara do porco. Inesquecível. Sabe que eu acho que realmente existem pessoas assim, talvez um pouco menos estereotipadas, mas completamente submissas ou tiranas ou ambiciosas ou fúteis.

No final, o filme dá uma guinada meio séria, diferente do começo irônico e torpe. Fiquei sem saber por que. Não entendi também o nome do longa, o que pode ter sido explicado no começo - que perdi.

*Foto do estranhoencontro.blogspot.com

17/08/2010

Como as músicas se fixam em nossa memória (ou só na minha...)

Para tirar o blog do "nadismo" (ato ou efeito de fazer nada, por Pula Onishi), resolvi escrever um post sobre memória. A minha memória musical.

É engraçado como algumas das músicas que aprendi nas aulas de inglês e espanhol ficaram impregnadas na minha cabeça. Solto a voz sempre que as escuto, sem vergonha, por mais brega que sejam. "Las cartas que escribi, nunca las envie, no querras saber de mi. No puedo entender la tonta que fui, es cuestion de tiempo y fe..." (Shakira, Estoy aqui - alguém se lembra dela como está na foto?). Há outra: "So tell me have you ever really, really really loved woman... To really love a woman, to undernstand her, you've got to known what deep inside..." (Brian Adams -!!!-, Have you ever really loved a woman) – essa última eu escutei hoje no carro, vindo para o trabalho. Óbvio, berrando cada verso. Tem umas não-vergonhosas, como Woman in chains (Tears for fears) ou The fool on the hill (Beatles). São essa quatro, basicamente, que ficaram marcadas por causa da escola e do curso de inglês.

Há outras, também, que me vêm fácil fácil à lembrança. Elas têm a ver com a infância infância mesmo, quando eu malemá sabia o que era música. Minha mãe gostava muito de Chico e Elis. E eu ficava animada, pulando, com Boi voador, seguido, na gravação, por Não existe pecado do lado de baixo do Equador.João e Maria e Noite dos mascarados, interpretadas pelos dois, também estavam no meu top ten.



Minha mãe também tinha um disco duplo (é, minha gente, disco) chamado "Um homem, uma mulher", que, obvimante, trazia faixas cantadas por um homem e... uma mulher. A versão brasileira de Endless love (Amor sem fim, em português), cantada por não sei quem, me arrebatou o coração. Eu quase choro toda vez que ouço. Minha mãe achava brega, mas eu não. Um toco de gente e romântica. O que diria eu daquela época sobre eu de agora? Certo, é brega.

Tem uma bem legal, que eu acompanhava com o encarte do disco no colo (porque tentava ler a letra). Boquita de cereza, do Tarancón. "Besa que te besa, boquita de cereza, sueña que te sueña que no eres para mí. Llora que te llora mis ojos de tristeza, no tengo riqueza, mi alma es para tí". Não é fofa? Eu fui a um show do grupo quando eu tinha uns dois anos. Minha mãe não queria me deixar com ninguém e me levou. Quando ela viu, eu tinha subido no palco e a vocalista estava me olhando desconfiada. (Ah, sim, quando eu era pequena eu tinha o péssimo hábito de subir nas coisas, em todas)



E me lembro muito bem de uma música irritante que eu aprendi logo nas primeiras lições da flauta doce. Faz muuuito tempo, acredite. "Que é da margarida, o quê? O quê? O quê? Que é da margarida, o que se vai fazer?" A música era só isso, uma das mais difíceis do livrinho. Fiquei treinando um dia inteiro para conseguir tocar sem tropeços na próxima aula. Só que minha tia resolveu passar a tarde em casa, coitada. Ela ficou louca com a música, até hoje ela se recorda da margarida. Impregnou. Total.

O que eles querem delas

De um amigo, deveras sabedor das coisas da vida, sobre as mulheres (a mocinha ao lado parece se encaixar, para ele, nesses requisitos):

A gente sempre leva em consideração alguns pontos básicos. Digamos que exista um limite máximo de assimetrias.

Limite de assimetria: não pode ter o cérebro menor que o coração; não quero só amor e afeto, aliás, só um tantinho mínimo; quero desafio.

Pontos básicos (fisicamente falando): proporção razoável de ombros e quadris; a bunda é mais importante que o peito; rosto (bonito) flexível, isto é, nem cara de puta constante, nem cara de santa permanente.

15/08/2010

Patacho - dia 4

04/abril

Estou cheia de bolinhas vermelhas na canela, parece alergia. Não sei do quê, mas desconfio que seja da água do mar quente. Tá coçando muito.

[as fotos de hoje estão horríveis pq foram feitas no meu celular]

Tomamos café e eu voltei para o ar condicionado do quarto. O Thomaz está lendo na varanda. Daqui a pouco saímos para as piscinas naturais.

O Fábio, que nos levou às piscinas, disse que nos viu ontem passando na estrada, a pé = andarilhos!! [certeza que NENHUM turista andou tanto assim, e na beira da estrada] Disse que nós devemos ter andado uns 25 quilômetros. Não é a toa que hoje minha batata da perna está dolorida...

As piscinas são lindas! Aproveitamos a maré alta para ultrapassar os corais. A água se apresenta em todas as tonalidades de verde, verde-azulado. Vimos muitos peixes: palhaço, pretos, azulados, vermelhos, roxinhos, riscados, cinzas, peixes que pulam (juro), corais roxos e vermelhos e até lagostim! O Fábio abriu um ouriço e os peixes vieram comer suas ovas. Assim nem precisa sujar o mar com migalhas de pão! Ele disse que sai muito para caçar lagosta e polvo em alto mar, a bordo de sua jangadinha. Mas contou que certa vez foi pescar de verdade, nesses barcos que passam 15 dias no mar, e não aguentou. Ele e um primo passaram mal a viagem toda, as ondas eram enormes, e o capitão do barco resolveu voltar no segundo dia. Se é duro para gente que vive no mar e do mar, imagine para nós, da cidade...

O passeio foi uma delícia e voltamos à pousada às 13h. Vamos almoçar por aqui mesmo. Ficamos com preguiça de ir para algum restaurante a pé ou de bike. As coisas aqui são longe para quem está a pé e cansado!

O Thomaz-olho-maior-que-a-barriga quis pedir 3 petiscos no almoço, em vez de um prato para cada. Macaxeira frita, polvo vinagrete e filé de aratu, que vieram à mesa nessa ordem. As porções são grandes, ou seja, muita comida. A mandioca estava crocante e macia, o polvo, delicioso (foto do Thomaz querendo pegar a mandioca antes do clique). Quando o aratu chegou, coitado, não tínhamos mais fome! Aratu é um caranguejo vermelho do mangue e estava muito bom: a carne é meio desfiada e o prato parece uma espécie de fritada. Comemos feito bois e fomos ler.

Eu estava muito queimada e dolorida, então fui tomar banho frio e arrumar minhas coisas. Depois, só mofamos. À noite, o céu estava estreladíssimo, coisa comum por aqui. É muito agradável ficar sentado no jardim, sentindo a brisa e olhando as estrelas. Depois assistimos a uma sessão de fotos de um fotógrafo e uma modelo que estavam hospedados na pousada. O Christian estava animadíssimo. Mais tarde, pagamos a nossa estadia e mais uma brincadeira do Christian: imprimiu a conta em números minúsculos, para perecer menor... ahahhah Quando íamos voltar para o quarto e esperar o transfer, ele chamou toda sua brigada e fez com que cada funcionário se despedisse de nós. Normalmente rola gritaria, buzinaço. Mas como iríamos embora meia-noite, ele achou por bem não fazer barulho. Preferiu me dar 348324 beijos de tchau. rs (na foto, a porta dos fundos do nosso quarto-casinha)

Eu dormi e depois colocamos um filme, Em Paris. Logo já era meia-noite e fomos esperar o transfer, que se atrasou um pouco. Ah, pagamos 140 reais. Muito mais do que R$ 11 de cada passagem do busão, mas infinitamente melhor. Ele demorou 2h para percorrer os 120km. Juro que não dava para ir mais rápido, é uma estradinha safada, cheia de curvas, e, óbvio, não conseguimos pregar o olho. Ainda em São Miguel dos Milagres, o moço atropelou um gato siamês. Ele ficou mal. "E era daqueles de raça..." O bicho estava bem no meio da rua, deitado. O motorista diminuiu a velocidade e o gatinho veio direto para baixo do carro. As duas rodas, da frente e de trás, passaram por cima dele. Tum, Tum. Foi triste, pobre gato.

Começou a dar fome no meio da viagem e ainda bem que o aeroporto de Maceió tem restaurante aberto de madrugada (ao contrário de Cumbica, que só tem lanche). Comemos e fomos embarcar. Óbvio que não dormimos direito. Chegamos perto das oito horas de uma manhã chuvosa, feia, fria e cheia de congestionamentos. Bem-vindos a São Paulo.

07/08/2010

Patacho - dia 3

03/abril

Acordamos às 8h50. Pedimos misto quente com queijo coalho (luxo em SP, ordinário, aqui), frutas e suco e saímos em caminhada, longa caminhada. Decidimos que iríamos até Porto da Rua, em São Miguel dos Milagres (cidade vizinha). Até o Tiago, da pousada, achou muito longe irmos e voltarmos a pé. Mas a gente é forte e aguenta tudo. Vamo que vamo...

A paisagem é linda, o mar tem várias tonalidades de verde e, em alguns lugares, as piscinas são límpidas (a maré contribui para o mar ficar mais ou menos agitado). Quase ninguém pelo caminho, encontramos até um casal enamorado demais na praia... Caminhamos cerca de 2h30 até chegarmos ao Rio Tatuamunha. Para atravessá-lo, com a mochila na cabeça, tivemos que enfrentar uma puta correnteza. Enfim, passamos. Logo depois do rio, outra surpresa: havia um banco de areia que era um verdadeiro berçário de caranguejos ou siris... não soubemos classificar. Tinha bicho de tudo quanto é tamanho, dos menores possíveis. Dava até dó de pisar no chão com medo de machucar algum recém-nascido. Mas parece que as pessoas de lá não ligam muito pra isso. Tinha uma manezão jogando frescobol em cima do berçário! Quantos caranguejos ele não matou em uma tarde?

Logo estávamos em Porto da Rua (na foto, logo depois que conseguimos atravessar o rio). Ali, os barcos pareciam encalhados na praia. E estavam, por causa da maré baixa. Se eles não saem para passeio de manhã, só no fim da tarde, quando a maré subir. Paramos no Restaurante do Elídio, sugestão da Carla do peixe-boi, e tomamos dois cocos deliciosamente doces e gelados. É outra coisa tomar água de coco onde eles nascem... a melhor, ever. Depois de duas caipirinhas cada um, a R$ 3 cada, pedimos casquinha de siri (R$ 4), polvo ao coco com farofa (R$ 20, uma entrada) e porção de pirão (R$ 4). O pirão é diferente, acho que feito com farinha de tapioca, com mais 'sustância'. O polvo, delicioso, fez provar que o Thomaz gosta desse molusco - e ele não gosta de frutos do mar, só peixe e lula. Comemos e tudo ficou R$ 48.

Infelizmente, resolvemos voltar a pé. A maré já tinha subido e o rio estava intransponível para quem carrega mochila. Tivemos que fazer metade do percurso pela estrada e, acredite, não é a coisa mais legal do mundo tomar sol na cabeça sobre o asfalto. O vento da beira-mar nem deu sinal de vida. Fiquei muito irritada, de cansaço, calor, dor nos pés... No fim de nossa jornada pela estrada, passamos por um mangue (é, na beira da estrada) e me diverti com os caranguejinhos entrando em suas tocas. Incrível, porque há tocas a 30 cm do asfalto!

Passamos numa mercearia onde seis mulheres tagarelavam alto para comprar água e cerveja (mais baratas, é claro, do que na pousada). Entramos no acesso à Praia da Lage e finalmente encontramos o mar. Andamos mais ou menos uma hora e chegamos à pousada, às 17h30. No total, foram quase seis horas de caminhada. Voltamos podres!! Tomamos uma ducha merecida e ficamos tomando vento. Estamos na varanda do quarto onde o sapinho normalmente ficaria. Mas ele não está. Acho que o assustamos.

Mais tarde, comemos salada com molho de mostarda (eu) e sopa de peixe (TO+), que estava deliciosa - a melhor de todas as sopas que provamos aqui. Pegamos um filme (Mutum) e combinamos o transfer com o Christian. Sairemos amanhã à meia-noite.


(Caminha, desgraçada! Nessa hora, passamos por um assentamento de camponeses sem-terra)

Patacho - dia 2

02/abril

Acordamos às 9h30. É incrível como aqui se dorme bem. Eu comi queijo coalho na chapa de café da manhã, além de fruta e iogurte. O Thomaz pediu omelete. Não tiramos foto do café, mas é tudo muito bem feito, delicioso e preparado na hora. O café foi reforçado porque nossa próxima atividade iria demandar muita energia: 20 km de pedalada!!! Pegamos duas das bicicletas disponíveis na pousada e fomos conhecer os vilarejos. O centrinho de Porto de Pedras não é muito bonito, mas tem umas pracinhas charmosas. é tudo muito simples e as casas ficam na beira da estrada, como se esta fosse uma rua mesmo. Isso se repete em toda a estrada. A maioria das casas é de pau-a-pique e muitas foram rebocadas. Há, também, algumas casinhas de palha perto da praia. A estrada não é à beira-mar. Ainda bem, porque senão os turistas estragariam tudo. Você precisa entrar de 600 metros a 3 km para chegar até o mar.

Vimos alguns restaurantes em Porto de Pedras e a balsa, e voltamos em direção à Praia da Lage. Ao lado fica o Rio Tatuamunha, onde moram simpáticos peixes-boi. Fomos fazer o passeio para conhecê-los. Para chegar de bike até o rio, é preciso atravessar 3 km de estrada de areia, um porre! Mas chegamos. R$ 30 reais por pessoa para ver o bicho num passeio que dura 40 minutos. Achamos caro, mas depois vimos que os guias precisam ser cadastrados pelo Ibama para fazer o trabalho e são todos ribeirinhos, da comunidade. Com a introdução do peixe-boi no rio (eles são readaptados ao ambiente natural ali, antes de ganharem liberdade), proibiram as atividades que geravam a renda dos locais, como a pesca.

O primeiro e único peixe-boi que vimos foi o Arani, macho, de sete anos, 270 kg e uns dois metros de comprimento. Foi o que disse a Carla, nossa simpática guia. Subindo o rio, que desemboca no mar, há um espaço cercado para adaptação, ao meio natural, de bichos abandonados e/ou encalhados em praias. O peixe-boi marinho é herbívoro, tem unhas nas nadadeiras, que mais parecem patinhas de elefante, só bebe água doce e sobrevive até seis dias em água salgada, perto da foz do rio onde mora.

Arani foi trazido ali há pouco tempo porque se machucou. Ninguém sabe se foram as raízes do mangue ou alguma maldade humana. Curado e solto, ele se apaixonou pela nossa jangada. Abraçava o barco (foto de cima), ficava sob ela, fazia graça e não saía de perto - tanto que a guia ficou com medo de levar multa do Ibama. "Eles podem dizer que estávamos perseguindo o animal." Não estávamos. É proibido alimentar, tocar e sair atrás do bicho. Mas o Arani gostou mesmo da gente. Quer dizer, do barco. Na falta de fêmeas para cruzar, os machos usam o casco da jangada para se excitar, virando a barriga para cima. Arani safado! E nós pensando que éramos especiais...

No rio também vimos caranguejos, habitantes do mangue vermelho (que tem as raízes aéreas).

Saimos de lá e enfrentamos a areia novamente. Depois, a estrada cheia de coqueiros. Eu estava louca por uma água de coco, mas, apesar de ter plantação em massa de coco por aqui, poucos são os lugares que vendem a água da fruta. Paramos para o Thomaz pegar dinheiro na pousada e voltamos para a vila de Porto de Pedras para comer. Fomos à Peixada da Marinete e comemos lagostim com macaxeira frita, super deliciosa e em quantidade colossal. O lagostim estava médio, esperava mais dele. Não estava limpo e com um gosto esquisito, nada suave como costuma ser... O prato com seis lagostins médios mais a mandioca custou R$ 30. E R$ 4 a jarra do mais delicioso suco de manga que já tomei. O prato sobrou e o almoço saiu por R$ 38.

Voltamos de bike (minha bunda doía horrores!) para a pousada e o Thomaz foi ler no deck. Eu estava com sono, fui tomar banho e dormir.

Aqui anoitece cedo, às 18h (pelo menos em abril). E venta muito à noite, o que dá uma aliviada no calor e deixa o mar bem mexido. À noite também chove, mas é super-rápido. Depois da soneca, fomos pegar um filme e pedir nosso prato do jantar. Aqui tem que ser assim porque a cozinha faz tudo na hora (não tem o mesmo movimento de um restaurante normal, em que tudo fica meio pré-preparado). Pegamos o filme chinês Lanternas vermelhas. Antes de chegarmos ao quarto, nosso sapinho amigo estava no mesmo lugar de ontem. O filme é muito bom, assistimos até a metade e fomos jantar. Ao sair, encontramos nosso amigo sapo com uma visita. Será uma namoradinha?

O Thomaz comeu sopa de cenoura com laranja, adocicada e muito boa. Eu fui de gazpacho, gelado e picante. Na volta, o sapinho estava sozinho. Terminamos de ver o filme e dormimos.


(Nosso "amigo" Arani. Sabe o que descobrimos? Os caçadores de peixe-boi aproveitam que é um bicho dócil e esperam que ele se aproxime da embarcação para respirar. Quando isso acontece, enfiam uma rolha (!?!!?!?) no nariz do pobre para 'sedá-lo' e, então, matá-lo. Quase chorei de tristeza)

06/08/2010

São Paulo/Maceió - dia 1

01/abril

Embarcamos à 0h para Maceió, em nossa viagem de três anos de namoro. O destino: Pousada Patacho, em Porto de Pedras, do ladinho de São Miguel dos Milagres. Paraíso dos paraísos. Saímos de Cumbica, o aeroporto internacional de São Paulo. Impressionante como ele estava bagunçado e sujo - tanto as mesinhas na área de alimentação quanto os banheiros. Um nojo. O caos imperava sobre o lugar: até dois homens arrumaram confusão na fila da Turkish Airlines.

Enfim, fomos para Maceió. O voo teve algumas turbulências e a passageira da poltrona 2F passou mal, mas chegamos bem. Do aeroporto - novinho, bonitinho - pegamos um táxi até a rodoviária, que demorou uns 25 minutos e custou 46 reais. Chegamos às 4h20 e nosso ônibus para Porto de Pedras só sairia às 6h20. E nós nem havíamos dormido. A rodoviária não é a segurança em pessoa, mas não tivemos problemas. Às 5h30, o Thomaz pediu um queijo quente com queijo coalho, delicioso e a $3,00! Nessa hora, fui comprar as passagens e descobri que a viagem demoraria umas 3h! "Oba!", pensamos, "poderemos dormir!". Até parece.

Maceió - Porto de Pedras

A DEF (por incrível que pareça, Deus É Fiel) leva de Maceió até porto de Pedras por apenas R$ 11,50. O ônibus demora mais de 3h30 para percorrer 130 km. Imagine que isso não significa muito conforto... Pinga-pinga é ótimo perto dessa linha. O ônibus parava a cada 10 metros e pegava ou deixava passageiros, que viajavam em pé, espremidos. Enfim... criança berrando, celular com mp3 rolando, entra a sai de gente e as comadres tirando o atraso nas fofocas. Resultado: não pregamos o olho. Além do barulho e da movimentação, o calor era de matar. Pior: estávamos vestidos de "São Paulo" e para viajar de avião, com ar condicionado forte. Pelo menos o motorista e o cobrador do busão (sim, cobrador) eram super legais e solícitos, nos deixaram na entrada certa para a pousada. De lá, 1 km a pé por uma estrada de areia. Resolvemos que voltaríamos de transfer: 80 reais a mais e 1.000% de conforto extra. Finalmente chegamos ao paraíso. Se fosse mais fácil, não teria o mesmo gostinho.

Pousada Patacho

Morena e Tiago, dois funcionários, nos receberam superbem. Christian, o francês dono do lugar, estava em Maceió fazendo compras para abastecer a dispensa.

Chegamos ao nosso quarto e quase choramos de emoção! Lindo!! Aqui tudo é cuidadosamente arrumado e escolhido, dos móveis e luminárias às flores que enfeitam todas as mesas e espaços.

Tomamos um banhão merecido e tivemos que nos esforçar muito para não cair de sono na deliciosa king size de nosso quarto. Descansamos um pouco e fomos explorar o lugar.

Primeira aventura: caminhada nos corais. Aqui, o comprimento da maré é enorme. Quando está baixa, o mar fica lá looonge... Quando sobe, vem até bem perto do deck da pousada. Lá pelas 11h, quando fomos passear, o mar estava seco, a maré, baixa - a lua cheia contribui para a diferença entre as marés. Chegar até o mar foi difícil: além de pular algas, tivemos que desviar de muitos ouriços do mar. Depois, nos equilibrar sobre os corais, morrendo de medo de machucar este frágil ecossistema. Até lá, o mar forma maravilhosas piscinas naturais, com todas as tonalidades de verde que você possa imaginar. Para lá dos corais está a água, batendo em ondas fortes, o que nos desencorajou a dar um mergulho. Deixamos para outra oportunidade. Entre ir e voltar, demoramos cerca de 1h. É superdifícil ficar desviando para não pisar em caranguejos, peixes ou ouriços.

Voltamos e ficamos no deck da pousada, sentindo o vento massagear nosso corpos cansados (na foto, o Thomaz em um das piscinas naturais). Tomamos banho de ducha e o Thomaz capotou na cama. Aproveitei para tirar um cochilo. Acordei e fui ler em um dos agradáveis ambientes da pousada. Depois, fomos jantar - café a jantar estão incluídos na diária. Pedi ratatouille e Thomaz foi de sopa de frango. Para acompanhar, um delicioso pão feito na hora, quentinho.

Pegamos o filme Bonecas russas na videoteca da pousada e fomos para o quarto asssitir - todos os quartos têm DVD player. Temos visita! Um sapinho "mora" ao lado de nossa porta.


(lendo)


(a pousada é linda!!!)


(lua cheia)

Argentina - Balanço Geral: QUERO VOLTAR!!


Amamos Buenos Aires!! É uma cidade na qual moraríamos facilmente: as pessoas são simpáticas, tem garrafa de cerveja de 1 litro, os vinhos são baratos, o transporte público é supereficiente, a cidade é linda, plana, e passa Chavo del 8 en español! (foto da Embaixada do Brasil)

Mendoza também é muito agradável, mas más chica - e tem siesta das 13h às 16h30 - ou seja, nesse horário, o comércio fecha. Em compensação, fica aberto até perto das 21h. Há inúmeras bodegas para conhecer e há um pouco de vida noturna - restaurante e boliches (bares). A cidade é cheia de praças e de árvores pelas ruas. Como Buenos Aires, é plana, o que facilita o deslocamento a pé, de bike ou motorizado. Só o táxi demora um pouco para chegar quando chamado. Além disso, os Andes estão bem próximos - dá para esquiar num dia, visitar o Parque do Aconcágua no outro...

Colonia, no Uruguai, a 1h de Buquebus (balsa gigante) de Buenos Aires, é superbonitinha. Uma cidade pequenina e com um centro histórico muito bonito. O porto é uma delícia! Só que, por ser a porta de entrada do Uruguai para quem vem da Argentina, é totalmente turística. As lojas colocam preço em dólar, há pessoas na rua te enchendo o saco para comer neste ou naquele restaurante, ou fazer este ou aquele passeio. Por isso, é mais caro comer lá do que em BsAs (comer, vestir, beber etc).

Montevideu parou no tempo. Ostenta glórias do passado em um presente decadente. Achamos que as pessoas de lá eram menos "felizes" que na Argentina. Não são mal-educadas, mas são mais sisudas. A cidade é bonita, mas com bairros esquecidos - mesmo os mais centrais. O Mercado del Puerto é um ótimo lugar para comer, mas seu entorno é sujo, ermo, abandonado (a gente sabe porque foi a pé para lá). A praia de Pocitos é uma delícia, tem calçadão e muito movimento (foto do bairro de Pocitos). Parece o Rio! Aqui, o transporte também funciona. E, se você for corajoso, tem até uma montanha russa quebradeira para enfrentar...

Buenos Aires - dia 16

06/setembro

21h20

Realmente ficamos bêbados ontem. Depois que saímos do bar, fomos procurar o que comer. Acabamos em um restaurante típico argentino que, obviamente, não recordo o nome. O TO+ pediu três empanadas e eu pedi mais berinjela. Só que não tinha berinjela e fiquei triste (foto ao lado). Pedi a salada que mais me apeteceu no cardápio - e aí que entre o problema da diferença da língua. A salada era de macarrão fusili integral. 1) eu não gosto dessas saladas com macarrão. 2) nunca pedi uma num restaurante. 3) queria algo mais leve. Resultado: quase nem comi, e dei metade do macarrão para o Thominho. Voltamos para o hostel, tomamos Naldecon Noite e dormimos como pedras.

Na manhã de hoje (domingo), tomamos café no hostel, arrumamos nossas bagagens e saímos do quarto. Fomos ao supermercado comprar vinhos e voltamos ao hostel. Ficamos fazendo hora até chegar o almoço. Queria ir novamente ao La Cabrera. Dessa vez, pedimos ojo de bife, salada caprese e um vinho Nieto Sarnentier (foto acima, nunca vou esquecer essa carne. Na foto abaixo, a salada fantástica...) Gastamos 155 pesos e comemos como reis. Demos uns rolês na feita da Plaza Serrano, que tem roupas, artesanatos e acessórios de todos os tipos. Há lojinhas também, com roupas estilosas e baratas. Mas como eu já estava falida, não ousei comprar.



Depois de andar um montão atrás de um café Havanna para comprar alfajores de presente, descobrimos que não há um em Palermo, pelo menos na região em que estávamos. Muito foda, porque já estávamos cansadaços, tudo doía. Andamos mais de um quilômetro e encontramos o tal. Voltamos para o hostel e o táxi já nos esperava. No aeroporto, muita fila para tudo, ainda bem que chegamos cedo. Mas foi bem duro ver que tinha Havanna lá (é óbvio que tinha! E a gente camelou tanto para achar...). Fiz comprinhas no free shop e tomamos três garrafas de Quilmes de 500 ml (foto acima). Encontramos os senhore que estiveram conosco no passeio às bodegas de Mendoza - um argentino e um cubano, cujas mulheres estavam se refestelando no free shop.

Bom, espero que não abram a minha mala porque tem doce de leite e azeite!

Ah, dica boa: cada pessoa pode trazer 4 garrafas de vinho na bagagem de mão.

Para variar, o voo está atrasadíssimo. O comandante disse que sairíamos às 22h, e o voo era às 21h15. Vamos ver...


(fotos da feira de Palermo)


(dog shoes)


(anteojos)