18/08/2010

"Possuídas pelo pecado" me possuiu


Ontem eu estava zapeando e passei pelo Canal Brasil. Passava o filme Possuídas pelo pecado, de Jean Garret (dos tempos áureos do cinema da Boca do Lixo), na sessão "Como era gostoso...". Os principais nomes do elenco eram David Cardoso e Agnaldo Rayol, este último com menos importância. Fazia um artista boêmio, que desenhava clientes de uma boate de strip tease no Rio de Janeiro. Acabou que desenhou a "secretária" de um ricaço alcoólatra, que o chamou para uma estadia em sua mansão para pintar um quadro. Coisa de mecenas mesmo...

Eu dei tanta, mas tanta risada com o filme, que não consegui desligar a TV e ir dormir. O protagonista é André, David Cardoso, com todos os músculos à mostra, motorista do ricaço, Leme (Benjamin Cattan) - um velho louco, preconceituoso, sádico, que bebe 24 horas por dia e não pode ter filho. Bem estereotipado. Ele tem duas 'secretárias', Jussara (Zilda Mayo) e Anita (Helena Ramos), que moram em sua casa, escondidas da mulher, e às custas dele, que as faz de gato e sapato. Anita bebe como uma porca e até beija o pé do patrão para dar um gole no uísque.

André é amante da mulher do ricaço, os dois planejam matá-lo para ela ficar com a fortuna do velho. A mãe dela desaprova. Roteiro clássico, sem surpresas. Acontece que a filha da empregada, Dorinha (Nicole Puzzi), vai morar na casa e se envolve com André. Engravida e ele tem a brilhante ideia de armar contra Leme: fingir que o filho é fruto de uma noite romântica com a menina depois de uma bebedeira. O ricaço cai na armadilha, pede "desquite" (assim mesmo, como nos velhos tempos) da mulher e começa a planejar o futuro de pai. Larga a bebida.

O melhor não é o roteiro, óbvio, mas as falas, caras e bocas e o jogo de câmeras. Tem uns momentos em que rolam uns cortes secos, e super closes, que lembram filmes de terror - e até um pouco da loucura de Godard e Antonioni. Tem muita nudez, cenas de strip, gordurinhas mais do que salientes para os padrões atuais, sexo, álcool, violência psicológica... só coisa imoral. E um monte de cenas bizarras, provocantes, apavorantes, diálogos desprezíveis e a fenomenal dublagem característica da época. Tudo errado. Mas muito bom. Tem uma cena em que Leme fica torturando Anita com uma garrafa de uísque, e a joga dentro de um chiqueiro. Sim, porcos. Inacreditável. Ela bebe a garrafa inteira num gole só, e a imagem dela pisca com a da cara do porco. Inesquecível. Sabe que eu acho que realmente existem pessoas assim, talvez um pouco menos estereotipadas, mas completamente submissas ou tiranas ou ambiciosas ou fúteis.

No final, o filme dá uma guinada meio séria, diferente do começo irônico e torpe. Fiquei sem saber por que. Não entendi também o nome do longa, o que pode ter sido explicado no começo - que perdi.

*Foto do estranhoencontro.blogspot.com

Nenhum comentário: