30/09/2011

Eu literalmente bati com a cara na porta. E doeu


Boa tarde para você que bateu com a cara na porta de vidro! Eeeeeeeeeee

Essa semana eu tenho me batido bastante. Os tradicionais roxos estão dominando meu corpo novamente! Aconteceram dois episódios pelos quais só uma palhaça estabanada consegue passar. Primeiro eu fechei a janela no meu dedão, que está roxo e ficou doendo durante dois dias.

Ontem eu fiz o "infazível". Tinha certeza de que a porta de vidro era "pra lá" e quis entrar por "cá". E foi inevitável: porrada na cara. Eu nunca me senti tão ridícula em toda minha vida. Além da bochecha esquerda, ainda tive a manha de bater o joelho direito. Na porta. De vidro. PUUUUTA barulho, escutaram até no décimo andar, certeza. E uma PUUUUTA dor, na cara, no joelho. Ficou uma bola vermelha no meu rosto, que, graças a uma sorte que eu ainda não sei da onde veio, não evoluiu para o roxo. Imagina só? O rosto roxo, depois verde, e amarelo... Já chega quando eu tirei meu siso e todo mundo perguntava se eu tinha passado caneta marca texto no rosto...

Eu sempre usei a expressão "dar de cara na porta". Agora, depois dessa experiência humilhante, nerver more, Lenore. É pior do que cair no meio da rua, escorregar com um monte de sacola na mão, tropeçar quando está correndo para pegar o busão... Os Trapalhões ficaram no chinelo.

27/09/2011

Ana congelada

Ana estava segura, parada na margem do lago congelado. Olhava a paisagem com um olhar doce, confortável. E alguém lhe deu a mão, como quem não quer nada. E perguntou se podia conduzi-la até ali, só até ali. Ana foi.

Mas Ana era inquieta, não conseguia seguir apenas uma direção. Enquanto alguém permanecia inerte, ou seguia seu caminho lentamente, ela passeava pelo o lago, voltava para a margem, ziguezagueava. Sua alegria contagiava e ela se deixava contagiar. Estava feliz, e, vez ou outra, voltava a dar a mão para alguém. Mas alguém quis se certificar de que Ana não iria embora com a mesma velocidade que chegara. Ana disse que não.

Uma hora ela olhou para alguém bem no fundo dos olhos e disse que não o conhecia. Não o conhecia mesmo, mas sabia que não a faria mal. Por isso, permaneceu como estava. Para onde iriam? Ela não sabia.

Um pouco adiante nessa caminhada, e já bem longe da margem segura, Ana teve maus pressentimentos. Não tinha certeza de que aquele era o caminho certo. Talvez o toque da mão não fosse tão forte quanto no início da jornada. Ou Ana simplesmente teve dúvidas quanto ao destino que alguém reservara para ela. Mas alguém dizia para Ana se tranquilizar, que não pensasse muito para onde estaria indo. Ir sem pensar seria melhor. Assim Ana fez.

De uma hora para outra, alguém finalmente sinalizou um destino. Suas mãos, trêmulas, indicavam um caminho seguro. Ana se entregou, confiava nas palavras de alguém, e no caminho que haviam traçado até ali. Era possível olhar para trás, mas impossível enxergar a margem. Talvez tivessem entrado em outro território. O cheiro do novo a entusiasmava.

Os dois correram ofegantes até a próxima parada. Foi quanto alguém relaxou a mão. Primeiro, Ana resmungou, sussurrou por ajuda. Percebeu que não havia entrado em novo território, mas que estava indo em direção ao buraco do antigo. Depois gritou, desesperada. Estava no meio do gelo, a primavera chegando, e o lago derretendo. Quando o gelo estalou e Ana se viu afundando, alguém olhou para trás e disse: "é assim mesmo, congela". Alguém deu de ombros e retornou para a margem. Ana congelou.

O dia em que saí do interior de SP para a Croácia. De trem

Meu sonho de hoje foi doidão. E, para tirar novamente as traças deste blog, torno-o público.

Eu estava fazendo uma matéria sobre transporte, trens, e tive a brilhante ideia de seguir uma linha do começo até o fim. Eu, um pouco de dinheiro e uma câmera fotográfica cuja memória já estava no fim. A linha do trem não era uma linha comum: ela ia do litoral de São Paulo, passava pelo interior e depois ia para a França. É, para a França.

Peguei o trem em uma parada qualquer e fui. Mas não era exatamente um trem, pareciam uns carros de mina de carvão, e eles batiam muito uns nos outros – e havia miniprecipícios ao lado. Fiquei com medo, mas o piloto (porque nessa hora não existia maquinista) era bom de manobra arriscada.

Cheguei a uma estação grande, elevada, com uma espécie de hortifruti embaixo. Ali encontrei um editor executivo da Época fazendo reportagem de campo com um primo meu que é fisioterapeuta (!!). E, no meio do hortifruti, minha avó, que segurava uma caixa com morangos e blueberries. A essa altura, eu já estava no interior paulista. E minha abuela tinha vindo de Piracicaba com uma van fretada. Parece que a feira ali era a melhor da região. Eu e meu primo falamos com ela, filamos uns morangos, e saímos. E fotografava tudo, tudo.

Alguns quilômetros dali havia outra estação de trem, a estação internacional que levava para a França. Peguei um táxi para lá. Ele deu uma volta enorme, o taxímetro quebrou (teve uma hora em que olhei e estava marcando preço negativo), o taxista ficou puto e eu descobri que não tinha mais um real no bolso. Da minha carteira saíam várias notas, muito dinheiro: peso argentino e dólar. A corrida deu 9 reais, e, para o meu alívio, um outro primo meu de repente se materializou dentro do táxi e pagou minha conta. Ufa!

Entrei na estação e peguei o primeiro trem. Para a França? Sem um puto na carteira, exceto pelos pesos ou dólares – que ali não tinham nenhuma utilidade. Levei um susto quando desci do trem e não vi nenhuma França. Era a Croácia. E não sei também por que era Croácia. Mas era. E não havia meios de eu achar um caixa eletrônico. Eu andava por aquelas ruas, que pareciam mais labirintos de camelôs, e não conseguia encontrar nada. É horrível você se perder no sonho. As lojas não aceitavam cartão. Foi tenso. No fim do sonho, achei um ATM. Mas acordei antes de saber se ele serviria para alguma coisa.