27/09/2011

Ana congelada

Ana estava segura, parada na margem do lago congelado. Olhava a paisagem com um olhar doce, confortável. E alguém lhe deu a mão, como quem não quer nada. E perguntou se podia conduzi-la até ali, só até ali. Ana foi.

Mas Ana era inquieta, não conseguia seguir apenas uma direção. Enquanto alguém permanecia inerte, ou seguia seu caminho lentamente, ela passeava pelo o lago, voltava para a margem, ziguezagueava. Sua alegria contagiava e ela se deixava contagiar. Estava feliz, e, vez ou outra, voltava a dar a mão para alguém. Mas alguém quis se certificar de que Ana não iria embora com a mesma velocidade que chegara. Ana disse que não.

Uma hora ela olhou para alguém bem no fundo dos olhos e disse que não o conhecia. Não o conhecia mesmo, mas sabia que não a faria mal. Por isso, permaneceu como estava. Para onde iriam? Ela não sabia.

Um pouco adiante nessa caminhada, e já bem longe da margem segura, Ana teve maus pressentimentos. Não tinha certeza de que aquele era o caminho certo. Talvez o toque da mão não fosse tão forte quanto no início da jornada. Ou Ana simplesmente teve dúvidas quanto ao destino que alguém reservara para ela. Mas alguém dizia para Ana se tranquilizar, que não pensasse muito para onde estaria indo. Ir sem pensar seria melhor. Assim Ana fez.

De uma hora para outra, alguém finalmente sinalizou um destino. Suas mãos, trêmulas, indicavam um caminho seguro. Ana se entregou, confiava nas palavras de alguém, e no caminho que haviam traçado até ali. Era possível olhar para trás, mas impossível enxergar a margem. Talvez tivessem entrado em outro território. O cheiro do novo a entusiasmava.

Os dois correram ofegantes até a próxima parada. Foi quanto alguém relaxou a mão. Primeiro, Ana resmungou, sussurrou por ajuda. Percebeu que não havia entrado em novo território, mas que estava indo em direção ao buraco do antigo. Depois gritou, desesperada. Estava no meio do gelo, a primavera chegando, e o lago derretendo. Quando o gelo estalou e Ana se viu afundando, alguém olhou para trás e disse: "é assim mesmo, congela". Alguém deu de ombros e retornou para a margem. Ana congelou.

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