24/08/2010

A orquestra atrás dos banheiros


(flor sem flor)

Eu estava em outro pique nessa viagem. Não comprei alfajores Havanna, não comi parrillada nem ojo de bife ou chorizo. Só tomei vinho, bastante, e cerveja de 1 litro, idem. Fiquei na casa das fofas da Gabi e da Vicky, numa avenida gostosa da Villa Crespo. Queria me sentir em casa, sem as paranoias de turista, muito menos a sua pressa e ânsia de conhecer tudo.

No sábado (21/ago) fomos almoçar em um natural, Pura Vida, que vende saladas e wraps no centro viejo. Pedi um combo com 1/2 wrap e sopa do dia por 24 pesos. Assistimos (tentamos) ao concerto gratuito da Orquesta West-Eastern Divan, regida por Daniel Barenboim. Nós e meia Buenos Aires, que lotou a Avenida 9 de Julio na altura do obelisco. A organização foi muito lusitana de montar uma "corrente" de banheiros químicos em volta do palco, que estava num nível inferior - ou seja, as casinhas tapavam toda a visão. Não foi muito relaxante escutar música clássica olhando para banheiros químicos. Engraçado é que as pessoas faziam shhhhhiu para as outras que falavam num tom um pouco mais alto que o cochicho. Era preciso sussurrar em plena 9 de Julio, olhando para um monte de banheiro. Bizarro.


(alguém vê o palco aí?)

Saímos de lá e fomos ao Museo Nacional de Bellas Artes, atrás do cemitério da Recoleta. Eu não conhecia, gostei muito. Nosso guia foi Nico, um amigo das meninas peronista até o último fio de pelo do corpo. Um cara muito inteligente, sabe tudo da história de seu país, divertido e que, a cada 20 minutos, soltava um Perón, para não perder o costume... ahahah

Fomos ver a exposição de Antonio Berni, artista famoso que nasceu no início do século XX e morreu no fim do emsmo siglo. Ignorante da arte argentina, eu não o conhecia. Sua obra gira em torno de uma mesma temática, e não de uma técnica. É o conflito de classes, a desigualdade social, a enxurrada capitalista do consumo, os exageros e as faltas é que chamam sua atenção. Muito bacana. Mas cada quadro tem uma linha, um traço, uma técnica - o que é muito curioso. Olhando para as telas, vê-se Frida Kahlo, Portinari, desenhos naïfs e, vá lá, até Toulouse Lautrec ou a pop art. Além da temática, o que persiste em todos os quadros é a tristeza no olho de suas personagens. Olhares baixos, longe, de desalento.


(eu e a Gabi em frente à Faculdade de Direito e da flor, que se abre pela manhã e fecha no por-do-sol)

Demos uma volta no museu, para ver a exposição permanente, e saímos em direção a um bar não muito caro - porque a Recoleta é alto nível. O sol era uma bola laranja no horizonte, na direção contrária à que nascia a lua. Andamos um pouco para chegar ao La Milanesa, na Avenida Las Heras. O bar é bem bonitinho, pensamos que fosse caro. Para a nossa surpresa, Quilmes de 1 litro por 16 pesos, 8 reais. Baratíssimo. Além de tomarmos várias, pedimos uma batata para petiscar. Era gratinada com molho de queijo e cebolla de verdeo, uma espécie de broto de uma cebola roxa em formato de alho poró. Delícia.

Bebemos todas e fomos para casa. As meninas moram em um apê fofo, pertinho do Parque Centenário. Antes de subir, passamos no chino (gosto cada vez mais dos chinos) para comprar vinho, massa e outras cosas para o jantar. Comemos, bebemos vinho e a Vicky saiu para o aniversário de uma amiga. Ia rolar um esquenta na casa dela e depois cerca de 20 amigos embarcariam no 'trenzito de la alegria'. Sério. É um trezinho mesmo, desses parecidos com bonde, mas a motor, que circula pelas ruas de Palermo. O povo se embebeda dentro do trenzito e fica berrando e mexendo com os transeuntes. Meio bizarro, mas parece ser divertido (se você não estiver sóbrio, é claro). Resolvi dormir antes de sair, e quem disse que consegui acordar? Barriga cheia e fígado atarefado combinam com cama. E só acordei de madrugada, deitada de calça jeans, blusa e sutiã, espirrando, atrás de um antigripal. Tomei e voltei a dormir. Lindo dia!


(sol laranja. rico!)

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