25/11/2010

escritos nada antigos

Quando estava no 1º colegial, 1996, o professor nos deu esse texto do Dalton Trevisan. Chama "Ezequiel", e parece, segundo meu xerox, estar no livro ou coletânea Desastres do Amor.

"(...) Minha tia não o queria porque era um homem feio e além disso sem profissão. Eu fiquei gostando dele porque levava um rádio e deixava-o lá em casa por algum tempo.

Certo dia, ele apareceu com um auto e disse a meus pais que queria passear com meu irmãozinho. Meus pais deixaram. Eu fui na frente com ele, meu irmão atrás. Ele nos levou a uma rua deserta e parou a lata velha, que é como dizem para certo tipo de carro. Ele pediu a meu irmão que se deitasse porque outro homem ia passar por ali. O outro homem não gostava de criança. Com uma voz que eu não sabia se era dele ou de outro homem, perguntou qual era meu nome, Joana eu disse, quantos anos você tem, oito anos eu disse, você quer uma boneca de cachinho, quero eu disse, e ele me prometeu todas as bonecas de cachinho se eu não gritasse. Depois já estávamos de volta para casa."

Acho que meus professores da escola curtiam Dalton Trevisan, li muito - foram seis anos em colégio jesuíta. Ele não era pessoa pública, nunca foi. Meio errado, meio vampiro, arreio, mais ainda que Chico Buarque (herói da minha infância). Veja você... Não sei de quem gosto mais. Tenho um pouco (ou muito) de Dalton: talvez seja menos reclusa, mas a visão que ele tem da gente curitibana é igual à minha. Não sou de lá, mas vivi lá, né? Há pessoas que amo em Ctba, e amo de verdade; são poucas e boas.



Mais 1992, 1o-11 anos, 5ª série

Vou escrever algo nada a ver com o Dalton. Acabo de ler meus arquivos. E, apesar de ter 18 anos a menos naquela época (29-18=11) , e ter usado o nome da minha melhor amiga da época na redação, e nunca ter tido irmão de verdade (a amiga Mari era mesmo melhor melhor, e se eu a vir hoje, continua sendo), isso veio me fazer escrever, 10 anos depois, com muita vontade. Medo! Ou não?

5ª série B, Anglo, Piracicaba, 10 ou 11 anos (com [muitas e boas, mas sinceras - "lhes" e "se" e tals é por conta da 5ª série] adaptações).

Quando você vê o final, não acredita que seria tão igual ao que escreveu. Eu escrevi isso numa cartilha em 1992 (10-11 anos), sério!!!. Está no meu colo agora. E quando falo com o leitor, não tinha lido Machado de Assis ainda, digressões, muito menos podia esperar que minha mãe morreria.

"Mariana estava correndo e tropeçou no skate do irmão, caiu no chão e rasgou a calça nos joelhos. Gritou para a mãe e chorou. A mãe pegou gelo no congelador para passar no joelho da filha, consolou Mariana. Estava doendo muito. Mariana sorriu para ela e despediu-se porque a mãe iria viajar para trabalhar, e agradeceu por ajudá-la a passar a dor. A mãe de Mariana foi embora e a garota ficou com saudades.

A mãe, no carro, pensou: "Que bonito o ato de Mariana ter vindo correndo só para dizer um 'tchau'. E acabou acontecendo isso (a queda). Eu amo a minha filha".

Querido leitor, as pessoas, às vezes [com crase mesmo], se prejudicam para dizer um 'tchau' para a pessoa que gosta, isto prova que essa pessoa, como Mariana, se prejudicou para querer dizer um 'tchau' para a pessoa que ela ama, a MÃE.

MÃE: palavra pequena.

GRANDE significado."

Esse texto pode parecer um sentimentalismo barato. Mas eu tenho o caderno da sei-lá-que-série [quinta], aqui no meu colo, com esse texto escrito à mão, inclusive sobre a falta da minha mãe. Eu falava com meu interlocultor, que nunca falou comigo.

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