23/09/2010

... tenha piedade de nós

Hoje aconteceu uma coisa que me deixou bem triste. Estava em um farol na Avenida Queiróz Filho com a Gastão Vidigal, onde um homem que tem alguma problema na coluna (ele vive curvado) pede dinheiro todos os dias. O sinal abre e eis que uma senhora, de cabelos loiros avolumados por laquê e óculos com detalhes dourados, avança sobre o moço, que terminava de atravessar a avenida em frente ao carro dela. Não contente em acelerar o carro, ela ficou esbravejando, batendo com as mãos sobre o volante. O estadardalhaço foi tanto que consegui ver tudo isso estando atrás dela. O moço se locomove com dificuldade, acho que isso só piorou o mau humor da perua velha.

Ele está ali todos os dias, sempre pedindo dinheiro. Nunca ameaçou ninguém, nunca o vi ser incoveniente. Tem pessoas que já o conhecem e levam roupas e comida. Ele é muito do bem, com um semblante sempre simpático, fala baixo. Nunca dei dinheiro, e ele nunca se ofendeu ou fez cara feia com a minha negação (o que, infelizmente, não é comum hoje em dia).

Depois que a mulher avançou o carro para cima dele, o olhei diretamente no rosto. Estava com cara triste, macambúzio. Não sei se por isso ou outro tropeço do destino, mas o moço não estava bem. Aquilo me atingiu ainda mais. Viver no farol pedindo dinheiro não deve ser a melhor coisa do mundo, mas ele sempre me pareceu animado. Hoje a perua loira avança contra ele e então ele entristece. Se já estava mal, só piorou.

Parabéns, senhora. Espero que, ao longo do seu caminho estressado, não faça mais vítimas da sua pressa egocêntrica.

Nenhum comentário: