28/11/2008

Não há nada de novo na catástrofe catarinense

Não quero falar das 99 pessoas que morreram (e talvez daqui alguns dias esse número aumente). Não é porque eu considere essas mortes menos importantes: uma pessoa só que morresse com os alagamentos e desmoronamentos que estão acontecendo em Santa Catarina já seria motivo de tristeza. Mas quero focar em dois outros personagens desse episódio: os sobreviventes e os responsáveis pelas construções incapazes de resistir à força das águas.

Que tipo de ajuda humanitária pode apagar a lembrança de ver sua casa sendo destruída e seus familiares e amigos morrendo? Nenhuma. Ajuda é bom para questões práticas. Essas pessoas jamais esquecerão o dia em que ficaram sem lar. Gente humilde. Gente trabalhadora que não pode se dar ao luxo de contratar um bom engenheiro para construir uma casa inabalável em um terreno menos arriscado.

É sim, um engenheiro. Porque desde que eu me lembro por gente Blumenau passa por terríveis épocas de tempestades arrasadoras. Qualquer construção naquela região deve ser bem estruturada, bem planejada. E quem tem que saber isso são as autoridades - prefeitos e secretários da região deveriam alertar a população sobre os riscos, oferecer alternativas e consultoria para os cidadãos que representam.

Por que é que as comunidades ribeirinhas do rio Amazonas não sofrem com suas enchentes anuais (que ultrapassam 10 metros)? Porque elas conhecem a natureza, respeitam sua força e sabem que não se pode lutar contra as águas. Essa relação é simples.

Por que, raios, uma região que já sofre há décadas com o mesmo problema não aprende como construir suas casas? Na verdade, por que os vários prefeitos que passaram por tais cidades nunca se comprometeram em amenizar o impacto das chuvas no funcionamento natural da cidade? Eu não estou falando de uma São Paulo, com quase 11 milhões de habitantes, que está inchada, estufada e esquecida pelos projetos de crescimento urbano sadio há mais de um século. Não que eu ache que São Paulo não tenha solução; eu preciso acreditar que sim!! Mas é que o problema envolve um território e uma população anos luz maiores que os de Blumenau.

Voltemos, portanto, à região catarinense. Qual o tamanho dessas cidades? Procurei no site do IBGE: Blumenau tem 292.972 habitantes; Itajaí, 163.218. As que declararam calamidade pública: Gaspar (52.428), Rio dos Cedros (9.685), Nova Trento (11.325), Camboriú (53.388), Benedito Novo (9.841), Pomerode (25.261), Luis Alves (8.986) e Rodeio (10.773), além de Itajaí. Alguém concorda comigo que cidades minúsculas como essas podem (e devem e é inadmissível não ter) ter um projeto decente e preventivo de crescimento rural e urbano?

Quem é que viu alguma mansão de Jurerê Internacional (a Miami Beach brasuca, e, tal qual a original, ostensivamente brega) ir por água abaixo? Ou, melhor, de Camboriú, uma vez que essa é uma das cidades mais prejudicadas? Não, amigos. O problema não são as chuvas, mas como essas cidades foram construídas. Na verdade, como a população menos favorecida (e que pode chegar até a classe média) se fixou na região. A questão é: como autoridades permitiram tal fixação sem um mínimo de apoio e conselhos preventivos?

No Brasil inteiro, há milhares de casas cinematográficas em cima de morros. Você já viu alguma delas despencar por causa de chuvas? Não? Nem eu. E as mansões em terrenos planos e vales? Já foram alagadas? Tsc, tsc, tsc

Um comentário:

Anônimo disse...

Lau, sou doutorando em saneamento ambiental e recursos hídricos pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE. 10 anos de consultoria ambiental em queima de metano através da captação e armazenamento de biogás (metano 60% + gás carbônico 40% em média, principalmente). Metano 21 vezes mais provocador do efeito estufa que o gás carbono).
Adorei o teu escrito sobre a catástrofe catarinense.
Minha opinão é: todo centavo investido lá será perdido no longo prazo. Solução: remover todo o pessoal para o cerrado e o governo ajudar na construção de cidades novas.

Sds.

Osvaldo Kuczman