07/01/2008

Shakespeare na vida real

Eu sempre gostei de Shakespeare – desde Romeu e Julieta e Sonhos de uma noite de verão, quando criança, até Otelo, Macbeth, Rei Lear etc, na "maturidade". O que considero mais interessante em suas obras é que elas nascem da mais pura ausência de comunicação. Um exemplo simplista: Y diz para X que Z quer assassiná-lo. X acredita e, em vez de perguntar a Z se realmente existe algum veio mortal em suas intenções, ou foge para onde ninguém poderá encontrá-lo, ou prepara uma armadilha para Z. No fim, X mata Z, mas o filho de Z mata X para vingar a morte do pai. Na verdade, Y armou tudo isso para chegar ao poder. Mas, de alguma maneira, ele também irá se dar mal no final.

Tudo isso sempre me pareceu um pouco inverossímil. Eu nunca consegui entender como as pessoas falam umas das outras, criam verdades sobre aquilo, e, sem ao menos consultar a protagonista da história, elaboram idéias e discursos vazios sem fundamentos. Isso, na boca dos outros, e delas mesmas, constrange pessoas inocentes que jamais fizeram parte daquela intriga sórdida e construída por debaixo dos panos. Se eu digo que sua mãe tem um passado duvidoso, você não vai até ela para se certificar antes de se armar de rancor? Uma pessoa equilibrada teria essa iniciativa, mas Shakespeare não trabalha com personagens equilibrados, logo, ele pode fazer isso. É tudo ficção.

Mas... a vida real infelizmente também tem eventos shakespearianos. As pessoas realmente criam verdades absolutas a respeito de terceiros sem que estes tenham consciência do que está sendo dito sobre eles. Aconteceu comigo, aconteceu com parentes e amigos e acontece todos os dias. É triste. Um dia eu pensei que Otelo fosse inverossímil. Hoje, acho que nunca foi tão real.

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