09/01/2008

padeceu à moral

Levantou a cabeça meio que sem vontade, depois de se manter cabisbaixo o dia inteiro. Lembrou-se das lembranças que queria esquecer, dos compromissos que queria desmarcar, das contas que gostaria de devolver. Fechou os olhos e viu as pessoas que não deviam estar lá, as paisagens que há muito não o contentavam mais, as mulheres que um dia sorriram de um modo sem graça, mas puro e verdadeiro. Então animou-se: pensou que poderia sair dali, abrir a porta, descer as escadas e enfrentar outro caminho. Virar à direita ou à esquerda, tentar um atalho ou atravessar a ponte, chegar ao outro lado...

Quis se levantar, mas não teve forças. As pernas formigavam, não sentia os pés, o corpo não lhe respeitava mais. Tornou a baixar a cabeça, voltando à névoa de pensamentos. Vozes, imagens, pessoas, paisagens, cores e movimentos frenéticos, descompassados e dissonantes. Seus olhos não enxergavam, viam apenas um conjunto de coisas disformes; que se tornavam pastéis, esbranquiçadas, sem contornos, sem vida... viu a luz. E deitou o rosto sobre a mesa.

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