10/04/2008

auto-estorvo

Por um motivo muito, mas muito particular, tive que ler alguns textos de auto-ajuda recentemente. Foram três vezes: uma sobre marketing pessoal, outra sobre cultura da gentileza e, por fim, sobre os benefícios de se comemorar as pequenas e grandes vitórias da vida. Não cabe dizer os motivos que me obrigaram a consumir esse tipo de literatura, mas juro que ela me deixa sem forças. É muita enganação, meu povo!

Quem é que não sabe que procurar ser feliz é a chave para a felicidade? Quem é que não sabe que tratar bem os outros lhe traz benefícios pessoais, profissionais e sociais? Quem é que (raios!) não sabe que gentileza atrai gentileza, que energia positiva traz energia positiva? Que estudar, ler, correr atrás de outras coisas além de ficar pasmando no trabalho melhora suas competências e proporciona sucesso profissional? Que saber a hora de ouvir, falar e dar opiniões é um dom? E que ser "pró-ativo" (odeio essa palavra!!) enche os olhos de qualquer chefia? Que trabalhar mais de 10 horas por dia pode interferir em sua vida social e familiar, estragando amizades e casamento?

O mais triste é pensar que eles vendem tanto. O ser humano é tão ignorante que não consegue concluir essas coisas sozinho? É só ler contos de fadas, filmes infantis, novelas e roteiros que trabalham o dualismo bem X mal. É coisa tão primária e tão óbvia, mas acho que as pessoas têm preguiça e preferem comprar um livro (melhor um livro de auto-ajuda do que os longos períodos do Saramago...) para serem lembradas dia após dia do que devem ou não fazer. Mas, sinceramente, se elas seguissem à risca, o mundo seria muito melhor, né?

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Eu li um livro ótimo sobre como ficar mal. É isso aí. Foi o melhor livro de auto-ajuda (ou seria anti-auto-ajuda?) que já li. E foi por prazer, não por obrigação. Ganhei de um bom amigo, que é tão cético e pessimista quanto eu. O livro chama Sempre pode piorar ou A arte de ser (in)feliz. O autor mostra milhares de caminhos para você acreditar que tudo pode ficar muito pior e que você é a melhor pessoa para contribuir para que isso aconteça. Ele sugere, inclusive, alguns exercícios. Cito alguns:

Sentado no sofá, olhe para o céu através da janela. Com um pouco de sorte, você logo notará minúsculas bolhas redondinhas, que vão descendo devagarinho, enquanto você mantiver o olho parado. Além disso, as bolhas parecem aumentar de número e tamanho... Imagine agora que você está com alguma doença grave, pois se os círculos ocuparem todo o seu campo de visão, você terá uma visão terrivelmente embaçada. Vá ao oculista. Ele tentará lhe explicar que se trata de simples e inofensivos pontinhos luminosos. Mas suponha que seu oculista estava com sarampo no dia em que explicaram a sua doença no curso de oftalmologia; melhor ainda, imagine que o oculista, por simples caridade cristã, não quer que você saiba que o seu mal é incurável.

Se este negócio dos pontinhos luminosos não der muito certo, não é preciso ficar aflito. Nossos ouvidos oferecem uma compensação à altura. Vá até uma sala completamente silenciosa e ouça com atenção um zumbido, um zunido, um leve assobio... Com a dedicação necessária, você conseguirá perceber o som sempre mais freqüente e mais alto. Finalmente, vá ao médico. A partir daqui, valha-se do exercício anterior, com a exceção de que o médico vai minimizar a coisa toda, como se fosse uma simples e normal labirintite.

Gostou? esses foram apenas dois exercícios. Há muito mais. Clique aqui e saiba mais. Está ruim? Não há problemas, com certeza vai piorar...

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