20/03/2008

Fugitivo

Ele só fazia o que queria. Não deixava suas vontades de lado para satisfazer familiares ou amigos. Mudava de idéia, mas jamais faria algo que não quisesse. Não se sacrificava pelo outro. Não planejava, porque decidir de última hora era muito melhor. Decidia sempre pelo o que queria, nunca pelo próximo.

Alguns chamavam aquilo de egoísmo, outros de desapego, outros, ainda, de esquecimento. Era desapegado em relação a tudo: faltava a compromissos, esquecia encontros, não sabia que número de roupa usava, não lembrava o que tinha comido no almoço, não respondia mensagens... Enfim, não se interessava por nada que não lhe despertasse atenção momentânea. E vivia assim, em momentos.

O desapego começou a ficar maior: não saía de casa, não viajava com os amigos, não visitava os pais, não ligava para os que dele gostavam, não se lembrava mais do que o excitara no passado. E foi se desapegando, dos amigos, dos queridos, dos que realmente o conheciam, dos que se importavam, dos que pouco o viam, da vida social, do carinho de todo dia.

Certo dia adormeceu. E nunca mais voltou. Desapegou, desencarnou. E ninguém sequer lembrou.

Um comentário:

semudei disse...

Não concordo com o final.
Ao menos você lembrou dele.