15/04/2009

Sade, o cigarro e as coisas 'certas'

Esse texto (abaixo, apenas o final), que saiu na Ilustrada de segunda (13 de abril), vai ao encontro do que eu escrevi aqui, há poucos dias. É do colunista Luiz Felipe Pondé (pode ser lido aqui, se você assinar Folha ou Uol).

O cigarro de Sade
"Temo pessoas que não têm vícios. O novo hipócrita é magérrimo, "verde" e antitabagista"

(...)Acho mais interessante imaginar o que Sade teria escrito hoje, se vivesse em nossa época, dada a delírios de uma nova "pureza". Imagine, caro leitor, que existem pessoas que "salvam" o mundo comendo alface! Um exército de rúculas! O que seria transgressivo no caso da "nova pureza"? Tiraria ele sarro do "pai Obama"? Ou talvez ele fumaria um cigarro no meio de um templo onde se reúnem os fascistas da saúde?

Mas tabaco faz mal! Claro que sim, mas ser violentada por cinco caras também faz mal. Fazer sexo nos telhados, como gatos, também faz mal. Por que achar que isso é libertador e fumar não? Vamos adiante, quem é o novo Sade? Que tal comer gordura trans? Ou será que a "ciência da comida saudável" já mudou de novo e agora comer gordura trans combate ataques cardíacos? Vejo um Sade gordo, dilacerando uma picanha em meio a um restaurante de comedores de rúculas. Chorariam? Ou o espancariam? Vaquinhas jamais, mas sádicos comedores de carne e fumantes merecem uma surra? Ou apenas desprezo e nojo? Os nazistas também eram defensores dos animais...
Sua Sodoma seria deliciosamente poluída, rindo das "medições" do aquecimento global. No lugar da teoria Gaia da "mãe terra", a "devoradora terra" gargalhando de nossa "devoção verde".

O Sade do sexo envelheceu. Hoje todo mundo acha chique achá-lo chique. O novo Sade é aquele que, talvez, debocharia de uma sociedade da saúde. O que nos humaniza são os vícios, não as virtudes. Temo pessoas que não têm vícios. O novo hipócrita é magérrimo, "verde" e antitabagista.
"

Um comentário:

Glauco disse...

Excelente a citação do texto do Pondé, não se pode desprezar a humanização pelos vícios, ainda mais diante da assepsia verde.