05/06/2008

A ansiedade, o telefonema e o guarda-chuva

Tem dias que começam super bem. Parece que tudo vai dar certo e há apostas para isso. A confiança é grande, o estado de espírito é ótimo e a companhia, agradabilíssima. Foi assim que começou o dia dela. Apesar do frio e da garôa fina.

Mas, como ela bem sabe, nem um radicalismo acaba bem. Confiar demais, amar demais e ficar muito feliz, todos essas sensações podem ter um fim trágico. E foi o que aconteceu. Lá pelo meio da tarde, começou a ficar ansiosa. O telefone não tocava e ela aguardava uma resposta decisiva - achava, obviamente, que tudo ia terminar bem. Achava. Estava confiante.

Demorou algumas horas e, então, o telefone tocou. Já não sentia ansiedade, preparava-se para o pior. Mas a esperança... Estava dentro no ônibus, levantando-se para descer, cheia de coisas penduradas pelos braços. Não sabia se ficava feliz ou triste com o toque - sentia que a resposta não ia agradar. Ao menos, mataria sua curiosidade.

O diálogo no telefone nem foi tanto um diálogo. Do outro lado da linha, a pessoa se justificando. Do lado de cá, ela só no "Ahã, eu entendo. Tudo bem. Muito obrigada...".

Pulou do ônibus como um tiro. A passos largos e apressados, chegou em casa. Subiu as escadas e começou a chorar. Decepção, tristeza, desabafo. Aquele choro era melancólico e, sim!, um desabafo. Tirou toda a ansiedade do peito com os primeiros murmúrios. Depois, deixou que as lágrimas lavassem o rosto. Sentiu-se desolada.

Passou um tempo, algumas horas. E ela se animou. "Paciência, da próxima vez eu não aposto tanto assim", pensou, longe de ser Pollyana, apenas tentando ultrapassar mais um obstáculo. Pequeno ou grande, era ela quem definia seu peso e seu tamanho.

Saiu de casa. Foi para uma festa. Encontrou pessoas queridas, amigos do peito e colegas que há muito não via. Recebeu um telefonema, mas não atendeu. Retornou a ligação, mas não consegui falar. Tentou outra e outra e outra vez. Passou muitos minutos ligando. Nada. Ficou preocupada. "Melhor ir embora e ver o que aconteceu." Foi, acompanhada de uma amiga.

Num local meio escuro e afastado da rua, foram abordadas por um homem de mochila. "Isso é um assalto. Fiquem bem quietas, não gritem. Passem o celular e a carteira." "Hã? Como assim? Não vamos passar nada", responderam as duas. "Estou armado", disse o homem, colocando a mão no bolso da calça. "É um guarda-chuva? É um guarda-chuva. ahahahha, como assim, armado?", disseram em coro. O homem foi embora. E disse que não deveriam segui-lo.

Cada uma em seu carro, o susto começou a tomar forma, cor e textura. Seu corpo balançava, suava frio, o celular na mão direita, enquanto trocava as marchas de posição. Sentiu um frio na espinha, um medo de nada, mas um medo latente. Um descontrole controlado, um medo do susto e da preocupação. Queria chegar logo ao destino combinado.

Chegou. Cansada, preocupada, assustada, neurótica. Aquela noite ia acabar mal, pior ainda. E lembrou-se: o dia começou tão bem... "É assim. Não tem como ficar sempre bem. Ou é o equilíbrio por ele mesmo, ou pelo contra-balanço de dois lado opostos, de instabilidades extremas." O dia seguinte seria melhor. Ou não.

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