26/12/2007

Ralações de fim de ano

"Você não sabe andar de bicicleta! Você não sabe andar de bicicleta! Você não sabe andar de bicicleta!!! Mas vai aprender." Preciso ter isso em mente para não cometer outro acidente. O menos pior é que a única que sofreu danos físicos fui eu mesma, vítima da própria incapacidade de subir na calçada. Estudemos o caso.

Há um mês, resgatei minha bicicleta de seus sete anos (senão mais) de reclusão. Estava esquecida, à sorte da ação do tempo, do pó e do ar. As peças enferrujando, as engrenagens reclamando e a pintura, desgastando. Depois de uma bela revisão, estava pronta para pegar o asfalto.

Eu não gosto de andar em parques (atropelar crianças, velhinhos, cachorros... não é comigo), nem de ficar dando volta no mesmo lugar. Para mim, andar de bike significa extrapolar, ao menos, alguns quilômetros do ponto inicial. E lá fui eu, na primeira expedição "distante". Obviamente, foi uma catástrofe. Cansei muito rápido, passei uma parte do percurso levando a bicicleta (em vez do contrário) e vi que minha capacidade em subir na calçada e medir a velocidade de arrancada estava longe de ser um dote.

Voltei a andar, mas agora de leve, perto de casa. Fui a um parque em que não deixam entrar nem cão nem ciclistas. Que raio de parque é esse? Voltei um tanto decepcionada. A terceira vez fui ao Minhocão de domingo, uma via sem carros, nem muita gente para atrapalhar o passeio. Muito bom. Dei uma volta a mais pelo centro de São Paulo e voltei para casa feliz. Mas ainda não estava muito treinada para subir as guias das calçadas. E não podia desistir...

Voltamos, eu e meu namorado, a fazer o mesmo percurso do primeiro passeio. Longe, de cerca de 50 minutos. Minha performance foi bem melhor, não parei uma só vez para beber água, nem levar a bike na mão. Nota 10. Almoçamos, descansamos e pegamos o asfalto, para mais uma jornada de 50, 55 minutos. Lá pelos 20 e poucos, começou a chover. Aceleramos o ritmo. Na Avenida Brasil, naquele dia de feriado, aconteceu a tragédia. Atravessei a rua e quis ir pela calçada para fugir dos carros – o farol estava prestes a abrir. Em vez de subir pela perpendicular, fui de "esgueio", como diria minha vó. Só que a bike não quis subir. Ela ficou com as rodas ralando no meio-fio e tombando em direção à calçada. Por um instante, pensei que tivesse me livrado – é longo o espaço de tempo entre estar sobre a bike e com a cara literalmente no chão. Quando me dei conta, já tinha deixado parte das duas mãos e do cotovelo na calçada, além de um pedacinho do joelho, do quadril e da coxa.

Sangrava muito, chovia cada vez mais. Tentei me levantar e a pressão baixou. Sentei novamente. O meu namorado estava branco, sem reação. Mais uma tentativa para voltarmos pelo menos levando a bicicleta na mão, mas nada da pressão voltar ao normal. Desta vez foi pior: quase desmaiei. Nestes momentos, a respiração começa a acelerar, a visão, esbranquiçar, e as pernas, estremecer. Sentei novamente. Não chorei, mas sentia muita dor. E frio, com a chuva cada vez mais forte. Não poderia voltar pedalando, e meu corpo se negou a caminhar.

No fim, uma alma caridosa, de um anjo santo, atendeu nosso pedido de socorro. Voltei para casa de carro, o patrão, de bike, sob chuva. No fim, deu tudo certo. Fiquei muito machucada, e espero que não estrague as festas de Ano Novo, mas não quebrei nada, nem lesei outra pessoa (a não ser meu namorado, que deve estar preocupado até agora).

Depois de tudo, só poderei sair de casa sobre duas rodas depois de passar por três módulos de "como subir guias de calçada" – em 15 aulas, divididas por guias rebaixadas, manobras na perpendicular e, finalmente, pela lateral (de "esgueio"). A pós-graduação será conseguir subir os dois degraus altos da porta de casa. Mas isso é para daqui alguns anos...

** Agradecimentos especiais ao Beto – o salvador –, e ao Tomi, super-herói de todas as horas.

2 comentários:

Ana K. disse...

Pobrecita!

semudei disse...

Todas as pessoas do signo de câncer não sabem andar de bicicleta ou tou generalizando muito? Pq eu tb não sei.