03/10/2008

A vida é o que está escrito


Ser jornalista é muito bom. Eu tenho acesso a muitas coisas as quais não teria em qualquer outra profissão, mas, ao mesmo tempo, não sou especialista em nada. E, para conhecer TUDO tenho que ter a humildade de reconhecer que não sei NADA. Tenho plena consciência de que que o máximo que eu souber se aproximará a nada. Por isso, se me perguntam "você é especialista (ou setorista) em quê?". Eu digo "em nada, mas posso escrever sobre tudo". Basta perguntar a quem entende...

Eu descobri muitas coisas por ser jornalista. Ainda que uma jovem jornalista. E descobri também que, nessa profissão, se cultiva e se abandona. É bom porque não sou especialista, e aprendo muito, sempre (quando se vira "expert", seu ego cresce e você não dá mais ouvidos às pessoas). Mas é ruim porque há o abandono, o deixar para trás quando aquilo não te interessa mais - e esse tempo pode ser uma semana, um dia, um mês, um ano... É esquisito. Mas é assim. Por mais vínculos que se crie, é sempre um vínculo interesseiro, porque eu sempre vou querer algo do outro.

"Quando você vai voltar?" Eu sei que não vou e respondo tentando me esquivar da verdade. "Sigo hoje. Talvez não vá", como diria uma tia-avó. É triste saber que você não vai voltar. E é mais triste ainda saber que se deixou a expectativa da volta.

E quando a matéria cai? E quando vai pra gaveta? E quando diminui o número de páginas ou o foco? O que você diz às fontes? Não sei... eu morro de vergonha. Você exigiu um esforço do outro que não serviu para "nada". Só para você aprender um pouquinho mais. No entanto, para a sua fonte, às vezes exigiu um tempo, uma força de vontade e um sofrimento sobre-humanos.

Eu sou do tipo que não quer incomodar - quer que as coisas aconteçam com naturalidade. Odeio o que é forçado. Sinto vergonha alheia quando vejo que uma resposta foi "plantada", quando o entrevistado não se sente à vontade para falar. Quer coisa mais gostosa do que alguém confessar porque confia em você?

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